Agradecimento

Agradecimento

Setembro de 2009

Foi com grande satisfação que reencontrei um velho e grande amigo da juventude.
O João Neto é para além disso, filho de uma pessoa que muito prezei e prezamos na nossa família, tendo-nos cruzado várias vezes ao longo do tempo em que vivemos em Angola.

Curiosamente foi sempre ao Enfermeiro Timóteo que coube, dada a sua profissão, merecer os agradecimentos que então tivemos a oportunidade de formular e que hoje reitero em meu nome e sobretudo da minha mãe, já falecida, mas que estou certo se aqui estivesse me teria pedido para fazer o que faço neste momento.
Cruzámo-nos várias vezes, naturalmente nem sempre por bons motivos.
Em 1957 por exemplo, cozeu-me um pé que ficou praticamente esfrangalhado por ter ficado entalado nos raios de uma moto Java. 

Logo a seguir a minha irmã mais nova teve um dedo cortado e quando o médico já tinha decidido deitar para o lixo a ponta do dedo indicador, foi o enfermeiro Timóteo que atendendo às súplicas da minha mãe coseu o coto ou a cabeça do dedo, que entretanto colou e sarou. Hoje apenas se nota uma leve linha à volta do dedo que naturalmente retomou todas as suas funções.
Depois fui eu que abri a cabeça depois de me ter armado em trapezista. Lá estava o Enfermeiro Timóteo ao lado do médico que me tratou. Uma operação complicada, já que a cabeça abriu mesmo, tendo de ser limpo o interior, cauterizado vasos interiores, apertada a cabeça e só depois costurada em dois ou três níveis distintos.
Lembro-me perfeitamente das dores que passei. Do Enfermeiro Timóteo lembro-me da minha mãe se ter sempre e muitas vezes referido a ele mais tarde, sobretudo depois em Nova Lisboa, tendo passado de Enfermeiro a Anjo da Guarda.

Naturalmente, não nos cruzamos só após estes acidentes, vacinas e curativos vários.
Houve uma altura em que a minha mãe trabalhou na lavandaria do Hospital e foi aí que eu e o João nos cruzamos mais vezes e mais tarde na Escola Técnica.

A 6 de Junho de 1974, mais uma vez nos cruzamos com o Enfermeiro Timóteo. Após um incidente em que fui ferido por bala em Silva Porto fui encaminhado para o Hospital de Nova Lisboa. As esperanças de vida eram tais que me puseram num canto e em vez de chamarem o médico de piquete, chamaram o Capelão para me dar a Extrema-Unção.

E estava o Padre Capelão do Hospital Militar a pronunciar só Deus sabe o quê e a ungir-me com os Santos Óleos quando ouço lá muito ao longe.
- D. Etelvina, a senhora está aqui a fazer o quê?
- Ó Sr. Timóteo, é Nossa Senhora que o traz. Ajude-me que o meu filho está a morrer.
E ele ajudou. E o médico de piquete apareceu 15 minutos depois. E eu fui operado logo a seguir. 
E eu estou aqui para dizer o meu muito obrigado, também ao filho do homem que me ajudou.
Nessa altura a minha mulher estava grávida de um filho, o Jesus Alexandre, que nasceu entretanto a 4 de Setembro (1974).
A 20 de Agosto de 2008 o Jesus Alexandre faleceu na Alemanha vítima de um acidente de viação.
Infelizmente o enfermeiro Timóteo não estava lá para nos ajudar.