Irene Bergman

Irene Bergman

 

A 05 Setembro 2015,  por Carla Pedro

Consultora financeira mais idosa de Wall Street fugiu aos nazis num barco português

 

Fez 100 anos em Agosto e é gestora de activos da Stralem & Co. Irene Bergman é assim a consultora financeira mais idosa de Wall Street. A sua história de vida é rica em experiências marcantes. De origem judaica, em 1941 fugiu com a sua família aos nazis. Num barco português.

Festejou o seu 100.º aniversário no passado dia 2 de Agosto, um domingo. E para assinalar a data, foi a convidada especial da Bolsa de Nova Iorque, no dia seguinte, para tocar o sino de abertura da sessão.

Chama-se Irene Bergman, presta consultoria financeira na Stralem & Co. desde 1973, depois de ter começado no "ramo" do investimento em 1957. Recebeu uma equipa de jornalistas da Bloomberg no seu apartamento em Manhattan, onde vive há mais de 60 anos, e ofereceu vodka e uísque na sua sala repleta de cadeirões europeus anteriores à Segunda Guerra Mundial.

Contou a sua história e encantou. Sem filhos e sem nunca ter casado, desde cedo quis investir e dar conselhos de investimento em bolsa. Era ainda adolescente e já queria seguir as pisadas do pai, que era banqueiro – não queria trabalhar num banco, mas fascinava-a o sector financeiro e queria ser "trader" na Bolsa de Berlim. Poderia ter sido a primeira mulher a consegui-lo, mas "essas aspirações foram suspensas quando os nazis a perseguiram, e à sua família judia, primeiro na Alemanha e depois na Holanda".

Conseguiram entrar nos Estados Unidos em 1941, fugidos de Hitler. "Chegámos aqui em Março de 1941 num barco português com 700 pessoas a bordo", conta na sua voz pausada e grave.

E foi nos EUA que Irene começou a trabalhar como secretária num banco. Quinze anos mais tarde, entrou na Hallgarten & Co., empresa que faz parte da Bolsa de Nova Iorque.

"As mulheres em Wall Street não eram muito populares", conta à Bloomberg. Ainda integrou a Loeb Rhoades & Co. e por fim, em 1973, encontrou aquele que considerou ser o seu lugar e onde ainda hoje está: a Stralem, que gere perto de dois mil milhões de dólares em activos. "Foi o primeiro lugar onde fui tratada como uma igual".

Com quatro assistentes pessoais, ainda dá muitos conselhos de investimentos aos seus clientes. E nunca perdeu nenhum, excepto quando tem de encerrar contas por morte dos mesmos.

Considera-se uma investidora super-conservadora e tem um conselho para quem pretende desfrutar de uma longa carreira em Wall Street: "Não façam nada estúpido".

Diz que os retornos sobre o investimento devem ser encarados… a longo prazo. Contrariamente a muitos investidores que hoje em dia estão obcecados pelos lucros rápidos, Irene afirma que é preferível esperarmos pelo menos três anos – ou muitos mais, isso é o ideal – antes de avaliarmos os activos que temos em carteira. Ou seja, temos de lhes dar tempo para mostrarem o que valem.

Um aspecto positivo de hoje em dia, afirma, é a possibilidade de um investidor poder transaccionar rapidamente um grande bloco de acções. Há alguns anos seriam precisas várias semanas para executar uma grande ordem, refere. Mas a rapidez também traz inconvenientes, adverte, pois as pessoas podem comprar ou vender o que não devem ou fazê-lo demasiado depressa.

"Quanto mais tempo estivermos neste ramo, mais pessimistas ficamos. Mas estou sempre pronta a ficar ‘bullish’ [apostar que uma acção vai subir]", comenta aquela que é uma das pessoas mais idosas ainda no activo "numa indústria gerida por homens com metade da sua idade". E como consegue chegar a esse optimismo perante uma determinada acção? É simples. É que quando olha para um título, consegue imaginar como estará dali a algumas décadas, explica à Bloomberg.

Se tem arrependimentos? Sim. Há uma oportunidade perdida que lamenta grandemente. A Apple. "A Apple escapou-me completamente". E isto leva-nos a outro conselho: tomem as vossas próprias decisões. "Sempre gostei de poder fazer o que queria, por isso qualquer erro será sempre falha minha. Não posso culpar outra pessoa", declara.

Desde Dezembro que não se desloca aos escritórios da Stralem, trabalhando agora a partir de casa com a ajuda dos seus assistentes. Mas fala com os seus colegas todos os dias e com alguns clientes todas as semanas, afiança.

 

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