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BURACÃO FARMACÊUTICO

BURACÃO FARMACÊUTICO

22-07-2015

O BURACÃO» (do jornal «O Médico»)

(alguém foi entrevistado por um jornalista, que disse o seguinte:)

Há uma grande fraude que se está a passar nas farmácias.

Ai sim? Ora conte lá isso...

O senhor jornalista lembra-se de quando ia aviar remédios à farmácia e lhe cortavam um bocadinho da embalagem e a colavam na receita, que depois era enviada para o Ministério da Saúde, para reembolso às farmácias?

Lembro, perfeitamente... Mas isso já não existe, não é verdade?

É... Agora é tudo com código de barras. E é aí que está o problema...

É aí que está a fraude. Deixe-me explicar: como o senhor sabe, há muita gente que não avia toda a receita. Ou porque não tem dinheiro, ou porque não quer tomar um dos medicamentos que o médico lhe prescreveu e não lhe diz para deixar de o receitar. Ora, em algumas farmácias - ao que parece, muitas - o que está a acontecer é que os medicamentos não aviados são na mesma processados como se o doente os tivesse levantado. É só passar o código de barras e já está.

O Estado paga.Mas o doente não tem que assinar a receita em como levou os medicamentos? - Perguntei.

Tem. Mas assina sempre, quer o levante, quer não.

Ou então não tem comparticipação...

Teria que ir ao médico pedir nova receita...

Continue, continue – Convidei

Esta trafulhice acontece, também, com as substituições. Como também saberá, os medicamentos que os médicos prescrevem são muitas vezes substituídos nas farmácias. Normalmente, com a desculpa de que "não há... Mas temos aqui um igualzinho, e ainda por cima mais barato".

Pois bem: o doente assina a receita em como leva o medicamento prescrito, e sai porta fora com um equivalente, mais baratinho. Ora, como não é suposto substituírem-se medicamentos nas farmácias, pelo menos quando o médico tranca as receitas, o que acontece é que no processamento da venda, simula-se a saída do medicamento prescrito. É só passar o código de barras e já está. E o Estado paga pelo mais caro...

Como o leitor certamente compreenderá, não tomei de imediato a denúncia como boa.

Até porque a coisa me parecia simples de mais.

Diria mesmo, demasiado simples para que ninguém tivesse pensado nela.

Ninguém do Estado, claro está, que no universo da vigarice há sempre gente atenta à mais precária das possibilidades.

Telefonei a alguns farmacêuticos amigos a questionar...

E isso é possível, assim, de forma tão simples, perguntei.

É!... Sem funfuns nem gaitinhas. É só passar o código de barras e já está, responderam-me do outro lado da linha.

E ninguém confere? - Insisti.

Mas conferir o quê? - Só se forem ter com o doente a confirmar se ele aviou toda a receita e que medicamentos lhe deram. De outro modo, não têm como descobrir a marosca. E ó Miguel, no estado a que as coisas chegaram, com muita malta à rasca por causa das descidas administrativas dos preços dos medicamentos... Não me admiraria nada se viessem a descobrir que a fraude era em grande escala...

E pronto... Aqui fica a denúncia, tal qual ma passaram...

Porque será que não se tomam providências e não se investiga até à exaustão o roubo que estão a fazer aos contribuintes?