Almirante Rosa Coutinho

Almirante Rosa Coutinho

The Communist Rosa Coutinho an incredible piece of shit! Rosa Countinho is the one in the middle.

 

Rosa Coutinho um autentico Monte de Merda

UMA carta do almirante Comunista de Merda Rosa Coutinho, quando era presidente da Junta Governativa de Angola, está a provocar polémica em Angola. A carta, em papel timbrado do gabinete do Governo-Geral e com a assinatura de Rosa Coutinho, era dirigida a Agostinho Neto e nela se pode ler: «Após a última reunião secreta com os camaradas do PCP resolvemos aconselhar-vos a dar execução imediata à 2ª fase do plano. (...) Dê por isso instruções secretas aos militantes do MPLA para aterrorizarem por todos os meios os brancos, matando, pilhando e incendiando a fim de provocar a sua debandada de Angola».

Holden Roberto, presidente da FNLA, que cedeu uma cópia da carta ao EXPRESSO, garantiu a sua autenticidade, acrescentando: «Um homem que escreveu uma carta destas é um criminoso». Rosa Coutinho,  reconheçe a veracidade da assinatura. 

 

-- TRANSCRIÇÃO DA CARTA --

 

República Portuguesa
Estado de Angola
Repartição de Gabinete do Governo-Geral

 

Luanda, aos 22 de Dezembro de 1974 Camarada Agostinho Neto, A FNLA e a UNITA insistem na minha substituição por um reaccionário que lhes apare o jogo, o que a concretizar-se seria o desmoronamento do que arquitectamos no sentido de entregar ùnicamente ao MPLA. 

Apoiam-se aqueles movimentos fantoches em brancos que pretendem perpetuar e execrando colonialismo e imperialismo português – o tal da Fé e do Império, o que é mesmo que dizer do Bafio da Sacristia e da Exploração do Papa e dos Plutocratas. 

Pretendem essas forças imperialistas contrariar os nossos acordos secretos de Praga, que o Camarada Cunhal assinou em nome do PCP, afim de que sob a égide do glorioso PC da URSS possamos estender o comunismo de Tânger ao Cabo e de Lisboa a Washington. A implantação do MPLA em Angola é vital para apearmos o canalha Mobutu, lacaio do imperialismo e nos apoderarmos da plataforma do Zaire.

Após a última reunião secreta que tivémos com os camaradas do PCP, resolvemos aconselhar-vos a dar execução imediata à segunda fase do plano. Não dizia ?Fanon? que o complexo de inferioridade só se vence matando o colonizador? Camarada Agostinho Neto, dá, por isso, instruções secretas aos militantes do MPLA para aterrorizarem por todos os meios os brancos, matando, pilhando e incendiando, afim de provocar a sua debanda de Angola. 

Sede cruéis sobretudo com as crianças, as mulheres e os velhos, para desanimar os mais corajosos. Tão arreigados estão à Terra esses cães exploradores brancos que só o terror os fará fugir. O FNLA e a UNITA, deixarão assim de contar com o apoio dos brancos, de seus capitais e de sua experiência militar. 

Desenraizem-nos de tal maneira que com a queda dos brancos se arruine toda a estrutura capitalista e se possa instaurar a nova sociedade socialista ou pelo menos se dificulte a reconstrução daquela. 

Saudações revolucionárias A Vitória é certa 

António Alva Rosa Coutinho 
Vice-Almirante 

 

Nota: Esta carta foi publicada pela primeira vez em Janeiro de 1975 num Jornal Sul Africano: Era o tema diário e a viva voz em Angola, principalmente na sua capital, Luanda. O canalha de merda do Rosa Coutinho ao ter conhecimento sobre a divulgação pública da referida carta, as suas únicas palavras sobre a mesma, em conferência de imprensa a 16/01/1975, foram: - Quero lá saber o que dizem os reaccionários.

Constou-se que a sua inesperada substituição por *Silva Cardoso, quando ninguém em Angola a previa, esteve na origem do conhecimento público desta carta.

*Silva Cardoso; leitura em: 1975, OS COMISSÁRIOS MFA, E A AGONIA DE ANGOLA.

Entretanto, a polémica prossegue em Angola, com o MPLA a dizer que a carta «nunca existiu e foi forjada pelos serviços secretos portugueses ou pela própria FNLA, que a divulgou» e Holden Roberto, da FNLA, a agitar o documento.

 

O "almirante vermelho" Rosa Coutinho
Almirante Monte de Merda e um Comunista de Merda

"Rosa Coutinho, oficial superior da Marinha de Guerra Portuguesa - e não..."Almirante" até ao "25 de Abril de 1974"- anos antes havia sido capturado no rio Zaire, onde a sua vedeta fazia patrulhamento das águas territoriais, por forças da FNLA, o ELNA (Exército de Libertação Nacional de Angola). 

Fora levado para o campo de treinamento militar do ELNA em Kinkuzu, na República Democrática do Congo, depois "do Zaire"; ali ficou meses detido, constando que o seviciaram, sujeitando-o a diversas humilhações, até ser libertado na fronteira de Angola, após negociações aturadas, a nível internacional, com intervenção de Mobutu Seseko, presidente "zairense" que também armava, financiava e cedia soldados ao ELNA da FNLA e, segundo rumores, era cunhado (o que não confirmamos), de Holden Roberto. É evidente que Rosa Coutinho não podia ter qualquer simpatia ou indiferença por quem o capturara e maltratara".

"Uma carta do almirante Rosa Coutinho, (ver cópia do original) quando era presidente da Junta Governativa de Angola, está a provocar polémica em Angola. A carta, em papel timbrado do gabinete do Governo-Geral e com a assinatura de Rosa Coutinho, era dirigida a Agostinho Neto e nela se pode ler: «Após a última reunião secreta com os camaradas do PCP resolvemos aconselhar-vos a dar execução imediata à 2ª fase do plano.(...) Dê por isso instruções secretas aos militantes do MPLA para aterrorizarem por todos os meios os brancos, matando, pilhando e incendiando a fim de provocar a sua debandada de Angola». 

Holden Roberto, presidente da FNLA, que cedeu uma cópia da carta ao EXPRESSO, garantiu a sua autenticidade, acrescentando: «Um homem que escreveu uma carta destas é um criminoso». Rosa Coutinho, reconhece a veracidade da assinatura. Entretanto, a polémica prossegue em Angola, com o MPLA a dizer que a carta «nunca existiu e foi forjada pelos serviços secretos portugueses ou pela própria FNLA, que a divulgou» e Holden Roberto, da FNLA, a agitar o documento".

Infelizmente o que Rosa Coutinho escreveu aconteceu mesmo. O MPLA fez guerra aos outros partidos em todas as cidades provocando o caos para afugentar os brancos. Mas não foi só o MPLA porque os outros fizeram todos o mesmo nas diversas cidades, saqueando estrupado e matando. Em Luanda a FNLA queixa-se que foi o MPLA que começou a hostilidades mas a verdade jamais se saberá..Os musse quesmas a verdade nunca se saberáhtm

 

O VILÃO COM A VARA NA MÃO

"Por essa altura já o Almirante Vermelho era a criatura mais execrada pelos portugueses de Angola. O seu riso era uma mistura de ódios recalcados, íntimos complexos e vaidades grotescas. E ria por tudo e por nada, só para ficar bem no retrato. Gostava imenso de falar na rádio e apressou, quanto pôde, a instalação da televisão em Luanda, sonhando com a presença da sua cara nos televisores dos luandenses.

Medroso como um rafeiro cabiri, transformou o Palácio do Governo Geral numa caserna com homens armados a circular em todos os corredores, fuzileiros especiais nos terraços do edifício e, quando o seu medo era maior, com um aparatoso dispositivo militar, que cercava toda a zona, desde a Avenida Álvaro Ferreira até ao Largo do Baleizão. No entanto, sempre que os brancos ainda residentes nos bairros suburbanos reclamavam protecção, respondia que Angola não era para timoratos.

 

Foi, em Angola, a sinistra figura do vilão com a vara na mão. Logo à chegada a Luanda, como presidente da Junta Governativa a que os luandenses chamavam «o quinteto de cordas», quando os jornalistas lhe perguntaram quando voltaria o general Silvino Silvério Marques, respondeu brutalmente:

- Já não é governador geral de Angola. Era um malcriado.

Interrogado, na mesma ocasião, se a independência de Angola estava para breve, declarou que esse era um assunto a decidir por todas as populações, e perguntou, com o seu risinho alvar:

- As populações já decidiram?

Mentia com cínico descaramento. E, ao regressar da Cimeira do Alvor, em que o não deixaram participar, teve a incrível atitude de pretender passar por alto comissário. À pergunta sobre quem seria nomeado para o novo cargo, insinuou ambiguamente:

- Por enquanto sou eu o alto comissário.

Procedia como um insuportável fanfarrão. No entanto, o Gouveia, coerente com as suas tendências políticas, ainda tentava defendê-lo.

- Governar Angola, nesta fase da transição, é uma empreitada do inferno - dizia ele. - O almirante faz o que pode.

- Faz asneiras aos montes - arrematou o engenheiro Balanta, que andava de um terrível mau humor.

- Falei há dias com um oficial dos «comandos» que quase chorava de raiva. A tropa foi proibida de entrar nos musseques, porque esse malvado careca tem um plano diabólico. Vai deixar armar o «poder popular» e, entretanto, já mandou tirar as armas aos brancos".

http://www.macua.org/livros/resvaladouro.htm

"Entretanto a violência e insegurança alastravam em Luanda, criando um clima de instabilidade, em especial na comunidade branca a que muitos atribuíam a sua causa. Em 5 de Agosto, pouco depois da chegada de Rosa Coutinho, o Major Mariz Fernandes, secretário de Estado da Comunicação Social e Turismo, é demitido das suas funções embora fosse elemento do MFA. Na altura afirmou que os incidentes em Luanda se deviam, não a um problema rácico, mas a uma luta desenfreada entre militantes do MPLA e da FNLA na conquista de posições de força na capital do território. 


Mas, o já Presidente da Junta Governativa, tinha trazido consigo o comandante Correia Jesuíno para essas funções que passou desde logo a exercer, como delegado da Junta, mesmo antes de tomar posse, tendo o Rosa Coutinho afirmado: «A informação em Angola, se não mudasse dentro de um período de oito dias, os angolanos poder-se-iam queixar na mesma".

 

"E tinham razões para se queixar, logo que tomaram consciência de que o novo responsável por este sector governativo, da maior importância na conjuntura do momento, orientou toda a sua política para um descarado apoio ao MPLA e quem não colaborasse era considerado militante ou simpatizante da FRA, reaccionário perigoso, preso e escorraçado de Angola. 

Foi mesmo o Correia Jesuíno que impediu o Rosa Coutinho de ser linchado dentro do Palácio por um numeroso grupo de brancos que, completamente descontrolados e enfurecidos com a política seguida pelo Almirante Vermelho, irromperam pelo palácio durante mais uma manifestação dispostos a tudo. Rosa Coutinho que se encontrava em reunião numa sala próxima, saiu de imediato e foi encontrá-los num pequeno compartimento procurando saber o que pretendiam e tentar acalmá-los. 

No entanto os ânimos exaltaram-se, os homens foram apertando o cerco e o Rosa Coutinho teve que subir para cima duma mesa, procurando escapar à sua fúria. Nesta altura apareceu o Correia Jesuíno que conseguiu pôr um pouco de ordem na situação e chamar à razão aquela gente constituída essencialmente por camionistas e comerciantes, tendo tudo acabado em bem".

In ANGOLA, ANATOMIA DE UMA TRAGÉDIA, General Silva Cardoso, Oficina Livro.

A BATALHA DE LUANDA

O programa da semana de Unidade Nacional não se concluiu nem teve lugar a reunião que trouxera o Ministro Melo Antunes a Luanda.

De um dia para o outro, é a expressão exacta, e sem que nada o fizesse prever, desabou sobre Luanda uma brutal onda de violência armada, ultrapassando em duração e intensidade todas as anteriores erupções de fogo quer de armas automáticas, quer de armas pesadas.

Na tarde de 9 de Julho de 1975, iniciara-se, no desconhecimento de todos excepto dos seus fautores, a "batalha de Luanda". Quando se supunha já tudo ter visto (e ouvido) descobria-se que ainda havia muito para ver (e ouvir). A fuzilaria irrompeu, infernal, acompanhada do estrondear de granadas a que os luandenses se haviam habituado (de morteiros e lança--foguetes) e de outras que, pelo som cortante e agressivo, se ouviam pela primeira vez, as dos canhões sem recuo, arma construída para deter ou destruir viaturas blindadas e carros de combate, mas ali utilizadas contra instalações ocupadas pelo "inimigo".

O Tenente-Coronel Heitor Almendra e as forças de que dispunha - algumas centenas de militares portugueses, organizados num número reduzido de unidades, por se haverem eclipsado na sua prática totalidade os elementos dos três Movimentos que integravam as FMM - voltaram a andar numa azáfama frenética, de ponta a ponta de Luanda, tentando reduzir focos de violência e proteger, na máxima medida do possível, pessoas que clamavam por socorro e os respectivos bens. 

O esforço, exaustivo, era acompanhado de apelos, emitidos inclusive por via da rádio oficial, aos comandos militares do ELNA, das FAPLA e das FALA para se reunirem no COPLAD na mira de plataformas que, no mínimo, sustivessem o inferno de fogo que devastava Luanda. Mas as respostas foram nenhumas e os resultados da acção abnegada e de alto risco das forças sob o comando do Almendra ficavam sempre aquém do que se desejaria. A frustração decorrente daquelas missões impossíveis, já que passavam por não tomar partido por nenhum dos Movimentos, em pleno caos de ferro e fogo, só era comparável ao esgotamento físico dos militares que se desdobravam, ininterruptamente, num sem número de saídas de interposição ou de socorro.

As delegações, os escritórios e os quartéis dos três Movimentos haviam--se multiplicado pelos subúrbios e também ao longo de vias importantes da capital, como as avenidas do Brasil ou dos Combatentes, donde serem inúmeros os alvos de todas as armas que desenfreadamente disparavam, num desprezo completo pelos milhares de pessoas inocentes que viviam naqueles locais; por outro lado e sempre que a violência armada era despoletada, sucediam-se os saques, os ajustes de contas, as detenções arbitrárias e os maiores atropelos à integridade física individual, perpetrados indiscriminadamente por combatentes, militantes, bandos de marginais ou simples cidadãos comuns, estes últimos tentados pela impunidade que o fragor dos combates lhes conferia.

Ao princípio da noite, num ambiente pesadíssimo e envolvidos pelo som do tiroteio e do deflagrar das granadas, encontrávamo-nos reunidos na biblioteca do Palácio o General Silva Cardoso, o Ministro Melo Antunes, o Tenente-Coronel Firmino Miguel, eu próprio e julgo que o Brigadeiro José Valente. Sentíamo-nos esmagados. Nakuru e as esperanças dali renascidas, se bem que mitigadas, eram letras mortas. Escritas há menos de três semanas! Quatro longos meses escoar-se-iam até ao momento da independência de Angola. Que mais estaria reservado àquele desgraçado povo? E à sua componente de raiz portuguesa?

O rebentamento de uma granada ouviu-se, pareceu-nos, a poucos metros. Os vidros da porta envidraçada que dava para o exterior estremeceram. De costas para esta última havia um sofá onde se encontrava o Tenente-Coronel Firmino Miguel. Instintivamente, deslizou um pouco pela cadeira. Já não havia zonas seguras em Luanda, se bem que o Palácio nunca viesse a ser atingido por qualquer impacto directo, até ao momento da independência.

Os contactos que se tentavam estabelecer, sem descanso, com dirigentes dos três Movimentos não resultavam. As lucubrações sucediam-se num quadro de impotência opressiva. Portugal não podia assistir, impávido e neutral, ao rasgar de dois Acordos e, pior, ao descalabro, agora irreversível, do processo de descolonização. Havia que assumir responsabilidades e atentar na tragédia do povo angolano e de muitas dezenas de milhares de portugueses cujo único anseio era já e apenas o regresso ou a partida para Portugal.

Reconheceu-se, ainda, ser importante e urgente reunir a Comissão Nacional de Defesa para se tentar apurar a origem e as consequências dos combates assanhados que se sentia estarem ocorrendo um pouco por toda a cidade.

Como era de esperar e a ninguém surpreendia, começaram, logo no dia seguinte, os ataques verbais e os comunicados de uns Movimentos contra os outros e de todos contra o Alto-Comissário e as Forças Armadas Portuguesas, esquecendo-se aqueles da formidável autocrítica confessada pelos seus dirigentes máximos no texto já morto, mas inapagado de Nakuru.

A FNLA acusava o MPLA de lançar ataques, recorrendo a armas de todo o tipo para destruir as suas instalações em Luanda com especial destaque para a sede da direcção política do Movimento na Avenida do Brasil.

 


Delegação FNLA, Avenida do Brasil (foto autor)

 


Delegação FNLA, Estrada de Catete (foto autor).

 

O MPLA fazia saber que "Angola está outra vez a ferro e fogo e, mais uma vez também, por iniciativa da FNLA que, desesperada pela falta do apoio popular, pretende conquistar posições de força recorrendo a todos os meios".

A FNLA, em novo comunicado, apontava o dedo às Forças Portuguesas, responsabilizando-as pela ajuda prestada ao MPLA.

A UNITA dirigia apelos desesperados ao Governo Português, ao Alto--Comissário e às Forças Armadas Portuguesas para que assumissem as responsabilidades que continuavam a deter em relação ao povo angolano.

O resultado visível daquela autêntica batalha que assolou Luanda e desfez inelutavelmente as parcas esperanças de imensa gente num futuro em terras de Angola, foi a conquista de uma posição dominante do MPLA na capital, doravante não mais contestada, pois a FNLA, no termo dos combates, via-se escorraçada de delegações, escritórios ou quartéis, totalmente destruídos pelas FAPLA, enquanto os seus combatentes e simpatizantes vagueavam pelos subúrbios procurando refugio ou passar despercebidos e muitos convergiam para o largo do Palácio buscando a protecção do Alto-Comissário. 

Outros acolheram-se num local ainda sob controlo de forças do FLNA nos arredores de Luanda, a Fortaleza de S. Pedro da Barra, localizada numa área de depósitos de combustível sobranceira ao mar e adjacente à refinaria da Petrangol.

Nos dias seguintes, aproveitando um curto período de acalmia, entabularam-se conversações entre os dois Movimentos de que resultou a evacuação de muitos daqueles desalojados (?), deslocados (?) com destino ao norte de Angola, sob a protecção do Comité Internacional da Cruz Vermelha (CICV), que chegara a Luanda em finais de Junho, ou das Forças Armadas Portuguesas.

A 12 de Julho, com imensas dificuldades e ainda sob o estrondo das granadas ou o crepitar das armas automáticas, foi possível reunir de emergência à CND sem a presença de representantes do MPLA.

O General Silva Cardoso teve que ouvir e, frequentemente, interromper, chamando à razão, o Ministro Ngola Kabangu (FNLA), exaltadíssimo e atacando tudo e todos, profundamente afectado, melhor dizendo, destroçado pela virulência dos combates e seu desfecho, este traduzido numa esmagadora derrota militar do seu Movimento na batalha iniciada, e ainda não terminada em Luanda.

A FNLA revelara-se um tigre de papel e claudicara irremediavelmente em três ou quatro dias de luta armada, mau grado a jactância do seu poderio militar e as ameaças de, se necessário, tudo desfazer.

Ao fim de algumas horas, ouvido o Tenente-Coronel Heitor Almendra, que fez um relato circunstanciado dos acontecimentos e serenados os ânimos, aprovou-se o habitual comunicado nos habituais e inócuos termos condenatórios da violência e apelativos à intervenção dos Presidentes dos três Movimentos, mas registando algumas notas específicas sobre aqueles dias de luto e dor para tantos angolanos: "Responsabilizava-se o MPLA pela generalização e magnitude dos combates que decorriam em Luanda; verberava-se este Movimento por se furtar à discussão dos problemas não comparecendo na reunião da CND; anunciava-se que o Alto-Comissário, nos termos do Acordo do Alvor, chamara a si a tutela da CND sobre as Forças Militares Mistas até ao momento em que a Comissão voltasse a funcionar com normalidade e na presença de todos os seus membros".

A resposta do MPLA ao teor deste comunicado não se fez esperar.

No dia seguinte ao da sua publicação, o Dr. Agostinho Neto voltava a acusar a FNLA de ter violado o Acordo de Nakuru e reagia às referências feitas ao seu Movimento, nos seguintes termos: "O MPLA continua a constatar, por declarações da parte portuguesa no seio da CND e fora dela, uma falta de isenção sistemática quer na apreciação dos acontecimento, quer na oportunidade dessa apreciação".

A onda de choque da batalha iniciada em Luanda repercutiu-se por toda a Angola até aos confins do território. Onde os outros dois Movimentos tinham a supremacia, nomeadamente da parte da FNLA, iniciou-se uma descontrolada caça ao homem em que eram envolvidos todos os que fossem ou se supusesse que seriam militantes e / ou simpatizantes do MPLA. Destes, muitos refugiaram-se nas matas; outros buscaram refúgio no interior de quartéis do Exército Português.

As relações da FNLA com as unidades portuguesas ainda aquarteladas na região norte de Angola passaram de tensas a explosivas. Produtos alimentares e bens de primeira necessidade escasseavam ou pura e simplesmente desapareciam do mercado.

A Cruz Vermelha Internacional fazia o que podia e, em Luanda, organizava, desde fins de Junho de 1975, a distribuição de grandes quantidades de alimentos e também vestuário e medicamentos a habitantes dos musseques, a desalojados e a hospitais, socorrendo-se de pessoal voluntário que minha Mulher integrou, acompanhada da Luísa Cardoso, da Teresa Almendra e da Maria da Piedade Alves Cardoso, até à partida para Lisboa.

A população portuguesa vivendo, como a esmagadora maioria dos angolanos, num meio de insuportável violência e de todos os desmandos que lhe estavam associados, passou também a sentir carências de toda a ordem até ao limite da falta de alimentos. Com o quotidiano devastado, refeições esporádicas e esperanças anuladas, aquela comunidade começou a sentir-se enclausurada, em especial nas terras do interior, e deu início a um movimento sem retorno quer para Luanda na procura de avião ou barco, quer para fora de Angola. 

Esta última opção traduziu-se em aventuras verdadeiramente épicas das gentes do sul ou que para o sul convergiram, mesmo a partir de Malange, que se foram integrando em colunas de viaturas, as mais diversas, e por entre controlos, exigências e chantagens de pessoal armado do Movimento dominante nas áreas atravessadas, se escoaram até à Namíbia, enquanto os camionistas de Luanda, da faixa litoral e do centro não desistiam do seu propósito, que muitos deles concretizaram, de chegar a salvo a Portugal levando por terra os seus camiões!

Estes últimos haviam-se a pouco e pouco organizado tendo a comissão que os representava sido recebida pelo Alto-Comissário em 18 de Julho. Os motivos alegados não surpreenderam, girando em torno da insegurança alastrada à totalidade do território que os obrigara a parar; na altura e mau grado "o muito que queriam a esta nossa querida Angola" tinham desistido de circular saturados de "pilhagens, espancamentos e incêndios nas próprias viaturas".

As intenções eram homéricas. Pretendiam, apenas, "constituir uma caravana, integrando no mínimo l 000 viaturas entre ligeiras e pesadas, e partir para Portugal, por via terrestre dadas as dificuldades financeiras e também de transporte marítimo".

Solicitavam protecção das Forças Armadas Portuguesas até à fronteira; uma autorização para levantarem certa quantia em dólares para despesas da viagem; e permissão para alguns dos seus membros se deslocarem a Portugal nos aviões da FAP, por ser mais rápido e sentirem necessidade de contactar as autoridades portuguesas, com a maior urgência possível, nomeadamente quanto à circulação através dos países por onde a coluna teria que passar. (...).

A Vertigem da Descolonização, General Gonçalves Ribeiro, Edições Inquérito.

UMA ÚLTIMA MENTIRA

"Pequeno quartel da UNITA na capital angolana ser atacado pelas FAPLA. A situação deteriora-se tão seriamente que o presidente do Quénia, Jomo Kenyatta, convoca para Nakuru uma cimeira de emergência. Após quase uma semana de discussões - para as quais Portugal não é convidado -, a 21 de Junho, os três movimentos fazem uma autocrítica, reconhecem ter dificultado a actuação do Governo de Transição, ter apelado ao tribalismo e ao racismo, armado a população civil, e comprometem-se a acabar com a violência e a intimidação, a integrar os seus exércitos numa força armada única e a desarmar os civis. Poucos dias depois, a 9 de Julho, após três semanas de violentos combates, a FNLA é expulsa de Luanda, e Savimbi pede protecção ao Exército português e ordena aos seus apoiantes que deixem a capital. Raul M. tem depois uma última recordação. "Quando já tinha mudado para uma casa no Bairro Salazar, lembro-me que houve uma altura em que só se ouvia martelar: pá, pá, pá". E do porto, cheio de caixotes".

HISTÓRIAS DA BATALHA DE LUANDA

Em Fevereiro, nem um mês após a tomada de posse do Governo de Transição, tornou-se óbvio que o que parecia desconfiança entre os movimentos estava longe de diminuir. O poder residia, de facto, nos exércitos que cada movimento não cessava de armar. Na cimeira de Nakuru, em Junho, os três reconhecem culpas, e prometem pôr fim à violência. Era mentira.
José Gomes

As forças armadas conjuntas acordadas um mês antes no Alvor não passaram de uma miragem, e os confrontos esporádicos iniciados em Fevereiro rapidamente se transformam em renhidos combates, com milhares de mortos, ao fim dos quais, em princípios de Julho, o MPLA estava sozinho em Luanda.

Pelo meio, a 21 de Julho, ficou a cimeira de Nakuru, no Quénia, promovida pelo presidente Kenyatta, na qual os três movimentos juraram a pés juntos que pretendiam pôr fim à violência.

Raul M. chegara a Luanda em fins de 74. Depois de meia-dúzia de anos em Argel, nos anos 60, é criado numa base da guerrilha no Congo. E é com a memória da adolescência que recorda os combates de Luanda.
"Uma das casas onde estive era na Praia do Bispo, uma estrada marginal com vivendas. Numa dessas vivendas, havia uma sede do MPLA. Por trás, havia um monte, e lá em cima havia uma sede da FNLA. De repente, começaram a entrar em "makas". Desataram aos tiros, e tudo o que estava na rua desapareceu", conta.

A BATALHA DA FNLA

Outra casa para onde depois passou ficava na Avenida Brasil, que dá para o musseque do Rangel. "Ali ao pé havia uma sede da FNLA, até era considerada uma das sedes mais importantes. Ali é que houve mesmo grandes porradas".

Os combates começaram com trocas de tiros de armas ligeiras entre a sede do MPLA e a da FNLA. "Cheguei a ter 46 buracos de bala na parede do quarto. Não percebia como, morava num sexto andar. Até que um dia espreitei: eles nem sequer levantavam a cabeça para ver onde atiravam. Levantavam a arma acima do muro e despejavam o carregador".

Um dia, a FNLA montou antiaéreas no terraço do prédio, e virou-as para baixo, em direcção à sede do MPLA. "Avisaram o pessoal do prédio que era melhor ir embora, não se responsabilizavam pelo que acontecesse. E nós fomos mesmo embora, para casa de família na baixa. Quando o MPLA descobrisse donde estavam a atirar...".

No dia seguinte, quando voltam ao sítio, o apartamento já tinha sido atingido por um roquete. Nos dias seguintes, o prédio iria ficar completamente destruído.

Nessa altura, já os três movimentos de libertação tinham muitas forças em Luanda. A FNLA havia, desde Junho do ano anterior, mesmo antes da assinatura formal do cessar-fogo com o Exército português, metido muita gente na capital, vinda de Kinshasa. Quadros políticos e tropa. Eram conhecidos por não falarem português, apenas francês com sotaque carregado, e pelo comportamento, arrogante, mais próprio de um exército de ocupação.

SABATA E PASSARÃO

Mas quem ganhou a Batalha de Luanda para o MPLA não foi a gente do mato, foi o povo dos musseques, enquadrado por ex-militares negros do Exército colonial. Em Junho de 74, cerca de nove mil militares angolanos do Exército português tinham-se manifestado publicamente, exigindo a desmobilização imediata.

"Uma das figuras paradigmáticas, uma das figuras emblemáticas, era um tipo chamado Sabata, que era um antigo ladrão do tempo colonial, mas que era muito popular nos musseques. Era uma espécie de figura mítica, porque era um indivíduo que fazia raides contra os da FNLA, e depois refugiava-se nos musseques. Dizia-se que andava com duas G3, de canos serrados", recorda Raul.

A FNLA também tinha o seu herói, um vadio branco de apelido Passarão. Conta a lenda que Passarão morreu abatido por Sabata em duelo singular. "Como se tivesse parado a guerra civil, os dois encontram-se no musseque, Sabata saca da arma, o outro estremece...".

Na verdade, não foi isso que aconteceu. De Sabata, mais tarde promovido a comandante, sabe-se que foi morto mais tarde, no 27 de Maio, em 77, durante o golpe de Nito Alves. Quanto a Passarão, diz-se que terá morrido em combate quando a FNLA foi empurrada até à fronteira.

Na batalha por Luanda o MPLA perde vários heróis populares. "Outra das vítimas da guerra foi um que eu tinha conhecido no Congo, o Valódia. O Valódia morreu durante um assalto à sede da Revolta de Leste, do Chipenda". Chipenda é expulso de Luanda logo em Fevereiro, e alia-se à FNLA.

Morre também Nelito Soares, um dos autores do desvio de um avião que voava de Luanda para o Congo, nos últimos anos da década de 60. É morto durante uma - a única? - operação de comandos portugueses em Vila Alice, bastião do MPLA. Vários portugueses, como passou a tornar-se comum, tinham sido raptados e levados para Vila Alice.

O Exército português exigiu a libertação dos reféns e a entrega dos responsáveis pela sequestro. Os responsáveis locais do MPLA fizeram orelhas moucas, e foi ordenada a intervenção dos comandos.

Nelito Soares, que nessa altura saía da sede do MPLA para negociar, é abatido, e os comandos fazem uma razia.

UMA COISA BANAL

Ao fim de algum tempo, a guerra em Luanda era uma coisa que se tinha tornado normal. "Para nós, que éramos miúdos, aquilo já era banal. Às três, quatro da manhã, íamos para a bicha comprar o pão. Às vezes, rebentava tiroteio, e toda a gente fugia. Mas depois havia discussões por causa do lugar em que estavam na bicha, e morria mais gente nessa discussão que propriamente nos combates. A guerra era uma coisa tão banal que a gente brincava aos beligerantes. Construíamos umas armas, em madeira, e andávamos para ali a disparar".

Mais. "A gente até ficava contente com a guerra civil, porque depois não havia aulas. Uma vez, à frente do colégio onde eu andava, apareceu uma manifestação do pessoal dos musseques...Ficou tudo tão aflito que as aulas tiveram de acabar e nós pronto, ficámos todos contentes".

Às tantas, começou a faltar comida em Luanda. "No sítio onde eu estava, não houve grandes carências. A gente ainda apanhava pão, mas tínhamos de fazer bichas de madrugada. E depois as pessoas tinham os seus esquemas, as suas relações... A mim nunca faltou de comer", recorda Raul.

"Por isso, para nós, miúdos, a guerra civil não foi aquela coisa hedionda... Só ouvíamos certos relatos, de gente que era morta de maneira bárbara, dizia-se que a FNLA matava com certos requintes, praticava antropofagia".
"Na Batalha da FNLA, aquela na sede na Avenida Brasil, contava-se de boca em boca, foi um grande acontecimento. Dizia-se que descobriram lá corações".

E sabia-se também da caça ao homem, do racismo. "A FNLA caçava tudo, quimbundos, mas sobretudo mulatos. Lembro-me que houve um mulato, que apareceu numa das casas onde eu estava, que tinha vindo lá de Carmona, do Uíge, e tinha sido apanhado. Levou porrada, e o fnla, o soldado, olhou para ele e disse-lhe: Seu mulato, passarinho sem ninho, seu filho da p.... E havia também aquele ditado: o branco vai embora de barco ou de avião, o mulato vai a nado".

UMA ÚLTIMA MENTIRA

A 11 de Junho, Savimbi, que entrara em Luanda a 25 de Abril de 75, vê o pequeno quartel da UNITA na capital angolana ser atacado pelas FAPLA.

A situação deteriora-se tão seriamente que o presidente do Quénia, Jomo Kenyatta, convoca para Nakuru uma cimeira de emergência. Após quase uma semana de discussões - para as quais Portugal não é convidado -, a 21 de Junho, os três movimentos fazem uma autocrítica, reconhecem ter dificultado a actuação do Governo de Transição, ter apelado ao tribalismo e ao racismo, armado a população civil, e comprometem-se a acabar com a violência e a intimidação, a integrar os seus exércitos numa força armada única e a desarmar os civis.

Poucos dias depois, a 9 de Julho, após três semanas de violentos combates, a FNLA é expulsa de Luanda, e Savimbi pede protecção ao Exército português e ordena aos seus apoiantes que deixem a capital.

Raul M. tem depois uma última recordação. "Quando já tinha mudado para uma casa no Bairro Salazar, lembro-me que houve uma altura em que só se ouvia martelar: pá, pá, pá". E do porto, cheio de caixotes.

ÁFRICA DO SUL AVANÇOU A PEDIDO DA UNITA E DA FNLA

O general Constand Viljoen, reformado desde 1985, já foi o "herói da Guerra de Angola" entre os soldados da África do Sul do antigo regime. Mas a sua personalidade não é a de um militarista no sentido convencional e o título assenta-lhe mal. Todavia, aceitou com prazer recordar e explicar os porquês teóricos da sua campanha de Angola.

Maria de Lourdes Torcato
Correspondente em Joanesburgo

"Na década de 60 começaram as guerras em África pela descolonização. Foi uma pena que todos os movimentos de libertação se virassem para a URSS, para pedir assistência, treino e armas. Acreditavam que a melhor maneira de se libertarem era a guerra" - diz Viljoen. "E a URSS estava na fase de expandir a ideologia comunista na África Austral. Isto condicionou tudo e foi pena porque se podiam ter encontrado soluções e as coisas não terem tomado o caminho que tomaram" - diz Viljoen, comedido nas palavras, referindo-se à guerra de três décadas que rodeou a descolonização em Angola e fez do povo angolano o mais sofredor da história moderna.

Mas havia alternativa, na altura, para os povos colonizados em África? "Infelizmente, por causa das nossas relações com os colonialistas ingleses e portugueses, a África do Sul adquiriu a reputação de ser uma espécie da nação semi-colonialista", diz Viljoen.

Para o general, a África do Sul poderia ter sido aliada dos movimentos emancipalistas na África Austral. Sem a aliança com a URSS, a independência aconteceria "sem guerra" - acredita o ex-general, que virou político. "Qualquer outra solução que não fosse a da guerra teria sido melhor".

"A independência de Angola foi a 11 de Novembro de 1975. Antes dessa data, com a assistência dos cubanos e da logística soviética, o MPLA tinha capturado vastas porções do país anteriormente controlados pela FNLA e pela UNITA.

Foram estes que nos contactaram e como comandante general das operações recebi a missão de dar assistência à UNITA e à FNLA e, mais tarde, ao grupo de Daniel Chipenda, para retomarem as suas áreas tradicionais, de modo a que, a 11 de Novembro, a Organização de Unidade Africana estivesse em posição de obrigar à formação de um Governo de Unidade Nacional em Angola" - é como o general vê os acontecimentos de 75, que levaram uma poderosa coluna militar sul-africana em marcha desde o Cunene até Cela, a pouco mais de 100 quilómetros a sul de Luanda.
"Instalar um governo de unidade nacional, em Luanda, era o nosso único objectivo, mas a OUA não conseguiu chegar a essa decisão" - insiste o general.

O que lucrou a África do Sul com esta intervenção? O general resume: "Estávamos a lutar ao lado das forças anti-comunistas na África Austral. Contribuímos para a destruição dos regimes comunistas totalitários no mundo". É claro que o general Viljoen, dados os acontecimentos posteriores, que levaram à queda dos regimes comunistas, considera que participou numa cruzada ideológica e que o Mundo devia agradecer à África do Sul.

E, indo mais longe: "Conseguimos adiar as mudanças na África do Sul até uma altura em que elas se puderam fazer sem interferência comunista exterior".

E porque é que uma boa parte do Mundo, especialmente a África, não vê as coisas dessa maneira? "É tudo uma questão de propaganda, não temos os meios de controlo da propaganda que o resto do Mundo tem" - diz o general.
O general Viljoen retirou-se das Forças de Defesa e Segurança em 1985 e ainda participou, em Março de 1984, na celebração do Acordo de Inkomati, entre a África do Sul e Moçambique, depois de ter dirigido pelo menos uma operação em que as SADF atacaram a Matola, nos arredores de Maputo, para desalojar um comando do ANC instalado numa vivenda.

Nesse ataque, morreram moçambicanos inocentes e instalações sociais de valor foram destruídas. Mas, como homem de paz, este acordo é-lhe caro, considerando-o uma tentativa sincera de Samora Machel de acabar com a guerra que destruía Moçambique.

Mas como explica que depois disso as SADF continuassem a apoiar a Renamo? "Não as minhas SADF", diz secamente Viljoen. "Talvez privados, ou os CCB (unidade secreta, constituída por ex-militares)".

A conversa com Viljoen passa depois para a política e fala agora o líder da Frente da Liberdade, um partido africaner que nas eleições locais acaba de confirmou os seus quatro por cento de votos.

"O Partido Nacional (de De Klerk) não tem futuro, porque não tem visão nem alternativa. É apenas um partido contra o ANC e isso não é um programa político. Eu tenho visão de futuro, pretendo defender a preservação da nação africaner e cooperar positivamente com o ANC no desenvolvimento económico da África do Sul e da região".

O general Viljoen, que dirige o projecto de assistência dos agricultores africaneres que querem investir em Moçambique e está a negociar a ida do primeiro grupo de agricultores para o Niassa, diz que já foi contactado por Angola para um projecto semelhante. "Mas em Angola a situação ainda não é clara" - conclui.

O presidente Mário Soares vem brevemente fazer uma visita à África do Sul e o que é que o general Viljoen lhe vai dizer sobre estes projectos nas antigas colónias portuguesas? "Os portugueses fizeram muito pelo desenvolvimento económico das suas colónias em África. O que eu vou dizer ao presidente Soares é que foi uma pena que os portugueses tivesem fugido a correr de Moçambique e Angola em 1975, e que nós vamos fazer os possíveis por continuar a fazer o trabalho que eles deixaram".

RESPOSTA CÉLERE DOS CUBANOS AO APELO DE AGOSTINHO NETO

Paulo Teixeira Jorge, "histórico" da Revolução Angolana, assegura ao JN que a consulta aos soviéticos partiu do próprio MPLA

Paulo Teixeira Jorge é, actualmente, o homem-forte das Relações Exteriores do MPLA. Um "homem de partido" que, no desempenho de tais funções, contribui de modo inequívoco para o nobrecimento, no estrangeiro, da própria imagem de Angola.
Luís Alberto Ferreira
Enviado JN

Durante anos ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Jorge, dos mais inteligentes, dos mais cultos, dos mais respeitados (até mesmo entre os homens relevantes da UNITA) dirigentes angolanos, guarda uma invejável experiência no domínio das mais complexas relações internacionais. Washington, Moscovo, Havana, Kinshasa, Pretória, Brazaville, desfilam na ardósia da entrevista que Paulo Jorge acaba de conceder ao JN, em Luanda, a propósito da efeméride que, nestas colunas, tem vindo a ser objecto de um amplo registo.

JORNAL DE NOTÍCIAS - Estes 20 anos de independência trouxeram algumas mudanças "qualitativas" no quadro das relações de Angola com os países imediatamente fronteiriços. O Congo-Brazaville, por exemplo. Que, no tempo do presidente Agostinho Neto, era governado pelo saudoso Marien Nguabi. E que, hoje, parece apoiar, veladamente, os independentistas de Cabinda...

PAULO JORGE - As relações entre os dois estados foram bastante amistosas. Tal como as relações entre o MPLA e o Partido Congolês do Trabalho. Isto, evidentemente, sem esquecer os altíssimos níveis de solidariedade dos congoleses durante a própria luta de libertação nacional. Foi uma espécie de compensação para os desgostos e a aspereza da experiência vivida pelo Estado angolano, e pelo MPLA, nas relações com a actual e também vizinha República do Zaire. A morte de Marien Nguabi, a própria evolução situacional na República do Congo e na África Austral, modificaram esse quadro. O estado de graça, digamos assim, foi-se esbatendo depois dos bons ofícios do regime presidido por Nguesso. Provavelmente, uma consequência dos fenómenos registados (o multipartidarismo, por exemplo) tanto no Congo como em Angola. Estamos a restabelecer, de há uns tempos a esta parte, sobretudo a níveis de partido, certas formas convivenciais com o Congo-Brazaville.

JN - É um dado adquirido, para Angola e para o MPLA, que o Congo-Brazaville se esforça por "intervir" no caso de Cabinda?

PJ - Eu não creio que se possa dizer, rotundamente, que o Congo procura influenciar, está implicado ou tem "interesses" nas movimentações sobre Cabinda. O que nós sabemos é que há, de facto, alguns congoleses, deste ou daquele partido, alegadamente interessados na questão. Eu admito que esses congoleses sejam instigados por potênciais alheias ao Continente Africano. E também admito que, mais do que no Congo, haja no Zaire grande apetência desestabilizadora de Cabinda, igualmente em subordinação a interesses e instigações de fora do Continente. Tendo em apreço as potencialidades de Cabinda.

EXÉRCITO AFRICANO

JN - A Nigéria, verdadeira potência africana, agora novamente nas bocas do mundo: é possível clarificar se a Nigéria chegou a disponibilizar-se, ou não, para intervir, militarmente, no passado, solidarizada com o MPLA?

PJ - O apoio da Nigéria, nessa conjuntura, cifrou-se em meios materiais. Não em tropas. Contudo, até mesmo a esse nível, o do envio de tropas e equipamentos respectivos, a Nigéria chegou a manifestar a sua firme disposição de impedir que um certo leque de forças periféricas realizassem os seus desígnios. A Nigéria foi, sem dúvida, dos países africanos de maior disponibilidade para Angola. Não vieram tropas da Nigéria para Angola porque, na oportunidade, se considerou desnecessário. Mas vieram, por exemplo, da Guiné-Conakri, alguns homens e algum equipamento; vieram também da Guiné-Bissau alguns homens e algum equipamento militar. Como é de todos sabido, preparava-se uma dupla invasão de Angola.

JN - Poderá supor-se, ou insinuar-se, que a Nigéria, com umas Forças Armadas numerosíssimas e bem equipadas, terá funcionado como elemento dissuasor de maiores ambições intervencionistas da "antiga" África do Sul?

PJ - O problema da participação de forças africanas em conflitos no nosso continente foi discutido, várias vezes, a nível da OUA. Nos anos da década de 80 discutia-se muito a constituição e composição de um Exército Africano e o respectivo comando, orçamentos, etc. A ideia, porém, face às diferenças conceptuais, nunca chegou a tomar corpo. Mas, indubitavelmente, a Nigéria, num tal projecto de Exército Africano, teria uma participação bastante expressiva!

JN - A distância de, precisamente, 20 anos: é firme a reiteração de que Angola, na altura da independência, esteve debaixo de uma grande ameaça?

PJ - Absolutamente. Uma acção combinada para atingir Luanda. A África do Sul viria, com as suas unidades militares, em apoio à UNITA. E a congénere zairense viria, por seu turno, em apoio à FNLA. Com um objectivo central: impedir a proclamação da independência, pelo MPLA, em 11 de Novembro. A resposta enérgica das FAPLA impediu o êxito dessa operação. Até porque, entretanto, tinham chegado a Angola os contingentes das forças internacionalistas cubanas, em resposta a um apelo do presidente Agostinho Neto. Ajudaram-nos a enfrentar dois exércitos regulares! O dos sul-africanos, na província do Cuanza-Sul, a nível do Rio Queve, que eles não conseguiram atravessar. E o dos zairenses, aqui a norte de Luanda, em Kifangondo.

JN - Os ventos da História determinaram, depois, que Angola, sob a direcção do MPLA, fosse um elemento de peso no próximo destino da Namíbia e da própria África do Sul...?

PJ - Fizemos simplesmente o mesmo exercício. Competia-nos retribuir a solidariedade recebida. A SWAPO passou a actuar a partir do território angolano, tal como os combatentes do ANC fizeram, em Angola, a preparação das suas incursões. Lembro-me de uma frase do presidente Agostinho Neto: "Na Namíbia e na África do Sul está a continuação da nossa luta". Uma frase legendária que o povo angolano assumiu, paralelamente ao seu sentir nacionalista.

OS CUBANOS

JN - Foi aqui sublinhado o papel internacionalista dos cubanos. É possível, já, à distância de 20 anos, uma avaliação profunda do papel dos cubanos em Angola?

PJ - Eu penso que Angola contraiu, perante os internacionalistas cubanos (é assim que nós os designamos), uma dívida impagável. Há sangue de Cuba vertido em solo angolano. Para que nós conservássemos a nossa independência. Isto é um facto, de grande inteireza, não é uma figura de retórica. Sangue cubano vertido em nome de um só valor: a solidariedade. Porém, às vezes, as pessoas, quando se referem a essa presença dos cubanos em Angola, somente a analisam em termos militares. Quando, de facto, essa presença excedeu, largamente, os termos militares. Os internacionalistas cubanos desenvolveram acções que se reflectiram em sectores importantes como o da saúde, o da educação, o das obras públicas. Vieram centenas de médicos, centenas de professores, centenas de técnicos constituídos em brigadas para acções de conjunto ou pontuais. É possível encontrar, hoje, em várias províncias de Angola, sinais da acção multiforme e extremamente válida dos internacionalistas cubanos. Daí que a participação cubana continue a ser, em Angola, vivamente referida não só pela direcção do MPLA mas, também, pela população em geral.

JN - Lá fora, contudo, não falta quem diga que "os angolanos nem podem ouvir falar dos cubanos"...

PJ - Completamente falso. Temos hoje, em Angola, centenas e centenas de quadros que estudaram em Cuba, que se formaram em Cuba sem que o Estado angolano cobrisse os respectivos encargos. Essa foi, sem dúvida, outra das valiosíssimas contribuições do internacionalismo cubano. O povo angolano não se manifestou, jamais, indiferente, ou hostil a essa ajuda multiforme.

JN - Até que ponto Moscovo influenciou a vontade política e internacionalista de Cuba em Angola?

PJ - A reacção de Havana, dos cubanos, após o apelo do presidente Agostinho Neto, foi, posso dizê-lo, imediata.

JN - Não houve sequer um compasso de espera que fizesse pressupor alguma prévia diligência junto da antiga URSS?

PJ - Não houve. Porque, repare: quando os exércitos zairense e sul-africano começam a invasão do nosso território, estamos em Outubro de 1975. A cerca de um mês da proclamação da independência. Até à vinda dos cubanos decorre, pois, um estreitíssimo lapso de tempo. Entretanto, nós, angolanos, isso sim, conhecedores da situação de Cuba, conversámos com os soviéticos. Do que resultou, contrariamente ao que se disse, uma participação da antiga URSS traduzida em equipamentos e instrutores militares, nunca em soldados! Também se disse, e era completamente falso, que em Angola combatiam, a nosso lado, forças da antiga RDA...

"PULSO" DE PAULO JORGE NOS CORREDORES DA CASA BRANCA

Durante algum tempo, a aposta do MPLA nas capacidades de Paulo Jorge incidiu na vertente da administração regional. Vertente incómoda, a dos governos provinciais. Paulo Teixeira Jorge foi governador de duas importantes províncias estratégicas: o Cuanza-Sul e Benguela. E ele não perde, de facto, a noção do tempo e... do espaço.

Ao longo da entrevista que nos concede, em Luanda, na sede nacional do partido, Paulo Jorge procura demonstrar que o MPLA está, de modo realista, preparado para os corredores e tribunas da política internacional. Menos loquaz numas questões do que noutras, Paulo Jorge não se furta, porém, a tudo considerar. Savimbi nunca fará uma apreciação minimamente dúctil do papel que Cuba teve em Angola? Ora, entende Teixeira Jorge, não é coisa que entre nas preocupações mínimas do MPLA. Ou dos cubanos. Porém, note-se, Paulo Jorge não minimiza as "pressões exteriores que levaram a UNITA a hostilizar os cubanos". Nomeadamente por banda da Administração (republicana) dos Estados Unidos. E, claro, do regime sul-africano já felizmente derrubado.

Para Savimbi, diz Paulo Jorge, essa animosidade a Cuba funcionou como bandeira chamativa de apoios de toda a ordem. Nomeadamente, dos seus "padrinhos". Bandeira-psicose-paranoia.

JORNAL DE NOTÍCIAS - Quando sobraçou a pasta das Relações Exteriores (Negócios Estrangeiros), travou, certamente, incontáveis "batalhas" conversacionais com os homens da Casa Branca. O que é que disse aos americanos sobre a ajuda cubana? Lembra-se de algum argumento básico?

PAULO JORGE - Lembro-me. Eu tive ensejo, no decurso de encontros com autoridades americanas, de lhes dizer, muito claramente, que o "conflito" entre os Estados Unidos e Cuba não era um "problema" de Angola! Nós, Angola, frisei, rejeitávamos categoricamente que a actuação dos Estados Unidos, relativamente ao problema angolano, se transformasse num prolongamento do seu "conflito" com Cuba. E a verdade é que Angola, de facto, foi palco para as mais diversas reproduções desse "conflito". E disso é indicador o facto de somente o ano passado os Estados Unidos terem reconhecido a República de Angola.

JN - Ouviu, directamente, dos norte-americanos, tentativas de cristalização e imposição do chamado "linkage"?

PJ - Sim, nos encontros que tivemos foi-me dado a entender, pelos norte-americanos, que o reconhecimento de Angola e a normalização de relações, segundo os Estados Unidos, subordinavam-se a um condicionalismo: a "presença de tropas estrangeiras em Angola", ou seja, os cubanos. Claro, os cubanos. Que não tinha lógica nenhuma, entendíamos nós. Porque os Estados Unidos, afinal, tinham relações diplomáticas com vários países africanos onde existiam tropas estrangeiras. Em Junho de 1977, os Estados Unidos da América do Norte estabeleceram relações diplomáticas com a República do Djibuti; e havia, nesse preciso momento, em Djibuti, 2.500 militares franceses! Então, as tropas francesas, no território do Djibuti, não são tropas estrangeiras? E não havia, também, tropas francesas na República Centro-Africana e no Senegal?!!!

L.A.F.

 

REGRESSO NO ÚLTIMO VOO

"És irmão ou camarada?" - a pergunta gelava o sangue. Do acerto da resposta dependia a sorte de quem por esses dias do fim do Verão de 75 se atrevia a andar pelas estradas de Angola. Houve gente espancada, emblemas engolidos,alguns ali mesmo traçadosà bala.
José Gomes

Nesse fim de tarde de Setembro de 75, eram esperados no aeroporto da então ainda Nova Lisboa dois aviões para evacuar portugueses em fuga à guerra civil em Angola. Os primeiros 200 a partir já tinham passado do hangar à sala de embarque, pela ordem do costume: doentes, feridos e deficientes, crianças e casais.

Quando o primeiro avião, um enorme "Boeing 747", está prestes a tocar a pista, rebenta grande tiroteio, vindo não se sabe de onde. O "Jumbo" aborta a aterragem, ganha de novo altura e afasta-se.

Américo Martins, que tinha ficado a coordenar as operações da ponte aérea repara que um carro de baterias, que arrancara para a pista à aproximação do avião, ficara no sítio, de luzes acesas. Um chamariz para as balas. Vira-se para o condutor, e ordena-lhe que vá lá buscar o carro. "Vá você!", obtém por resposta. E foi mesmo.

Pouco depois, é abordado por um oficial pára-quedista. "O que se passa?", pergunta o militar. "Vocês é que devem saber!", responde Américo Martins. "Deixe estar, vou já tratar disto", garante o outro.

As balas tracejantes deixam realmente pouco depois de riscar os céus por cima do aeroporto. O "747" volta a aproximar-se e finalmente aterra.

Américo Martins sobe a bordo, vai à cabina falar com o comandante do avião, um brasileiro, para saber quantos pode embarcar. "O que é que você precisa?" pergunta o comandante. "De tudo!", responde o português, que ele próprio já só tinha que comer quando a governanta negra que um amigo deixara para trás, por artimanhas que só Deus sabia, lhe desencantava algo que mastigar.

"Comida não tinha, mas deu-me dois pacotes de tabaco, Marlboro", conta Américo Martins, que ainda hoje abençoa os benditos volumes, que horas depois haviam de lhe salvar a vida.

Passadas as cortesias, o coordenador da ponte aérea quer saber quantos pode embarcar. "Mande entrar até eu dizer", responde o comandante. Américo Martins esfregou as mãos de contente, não sabia quando viria o próximo avião, e embarcou quase 300 pessoas - mais que o costume, que aquele voo ainda ia meter mais gente em Luanda antes de partir rumo a Lisboa.

"E malas?, ainda perguntou, com a leve suspeita que estava a abusar da sorte. "Vim salvar vidas, não vim salvar malas", veta o brasileiro. E toca de se fazer de novo à pista.

"Correu-a toda, estava a ver que não conseguia alçar-se", recorda. Por pouco. Ao fim do asfalto, o "Jumbo" afocinha para o barranco, mas lá começa a ganhar altura.

Já eram dez da noite, Américo Martins resolve ir a casa antes do outro avião. No caminho, é parado. À luz dos faróis, vê um civil, armado e completamente bêbado, no meio da estrada. "És irmão ou camarada?", pergunta-lhe, cambaleante, o cano da metralhadora apoiado na beira da janela do carro. "Nem uma coisa nem outra. Deixa-me passar, venho do meu trabalho!", tenta Américo Martins. "Mas és irmão ou camarada?" insiste o outro, o cano a escorregar cada vez mais para dentro, o dedo no gatilho a aproximar-se cada vez mais do aro da janela.

Achar a resposta certa era difícil. Camarada era como se tratava a gente do MPLA, irmãos eram os da FNLA, e o homem que tinha na frente tanto podia ser de uns como dos outros.

Américo Martins sabia que havia gente que tinha cartões do MPLA, da FNLA ou da UNITA, para mostrar conforme as circunstâncias, mas não era o seu caso, nem ali lhe tinha servido para nada. O negro estava vestido de farrapos, que não eram farda de partido nenhum. Por respostas erradas, gente em Luanda foi obrigada a engolir distintivos, levou pancada com mangueira. "Eu próprio vi no Huambo gente encostada ao volante, traçada à bala", lembra o antigo industrial do Porto, que partiu para Angola quando a fábrica que o pai lhe deixara, onde tinha fabricado os aros da cúpula do Palácio, lhe foi tirada a seguir ao 25 de Abril.

Américo Martins puxa de um cigarro, ganha tempo, acende-o. "Tens tabaco?", pergunta o negro. "Tenho", e saca, de debaixo do banco, um dos dois pacotes de "Marlboro" que lhe dera o comandante do "Jumbo".

Parte-o em dois, dá 10 maços. "Deixa passar, que este é irmão!", grita o homem para outro, escondido com a arma nos arbustos mais à frente.

Américo Martins passara já por muitas situações do género. Era há meses encarregado da coordenação das operações da ponte aérea, depois que o engenheiro Alberto Marques Pinto partira, por causa de perseguições.

O engenheiro encabeçara o movimento das forças vivas da cidade na criação do comité local da Comissão Nacional de Apoio aos Desalojados, quando Nova Lisboa foi invadida, em meados de 75, por 200 mil pessoas em fuga do Norte de Angola. "Viviam nas ruas e nas praças, dormiam, cozinhavam, faziam tudo na rua", recorda.

Às tantas, Marques Pinto manda perguntar para Portugal como ia ser resolvido o problema dos refugiados. De Lisboa respondem que a TAP resolvia o assunto. "Como, ninguém sabia. Só havia um voo por semana, quando havia...", diz Américo Martins.

Em Luanda, os dias de barco enchiam o cais, as manifestações em frente ao Palácio do Governador eram diárias. "Queremos sair daqui. Ajudem-nos", diziam os panos estendidos, escritos em inglês e francês.

Vários tentam a fuga por estrada, para sul, em direcção à fronteira do então Sudoeste Africano, sob administração da África do Sul. No caminho, são assaltados, as mulheres violadas. Quando conseguem chegar à fronteira, muitos perdem-se no território desértico. Às vezes, são localizados por aviões de reconhecimento sul-africanos.

No Huambo, decidem contactar consulados de países ocidentais. O Consulado dos Estados Unidos responde que está pronto a auxiliar a comissão, desde que haja um pedido formal por parte de Portugal.

É por essa altura que, em desespero de causa, o general Gonçalves Ribeiro, em Lisboa, faz um telefonema para o embaixador norte-americano, Frank Carlucci. Este promete o auxílio americano para a ponte aérea desde que seja efectuado um pedido oficial do Governo português. Nessa mesma noite, o Presidente da República, general Costa Gomes, entrega o pedido formal.

"Até ao início da ponte aérea, os portugueses não eram perseguidos, mas depois começa a haver problemas", recorda Américo Martins. Marques Pinto é suspeito de simpatias pela UNITA, começa a ser perseguido, e resolve fazer as malas.

Passa as braçadeiras da Cruz Vermelha e da CNAD a Américo Martins, que fica encarregado das listas de embarque, da guarda das bagagens e da passagem dos comprovativos das entregas em dinheiro. E cada vez mais sozinho, que o oportunismo não tem cor nem nação: "Vim a descobrir que alguns se inscreviam no CNAD só para garantirem o lugar no avião", conta.

Com o aproximar da data da independência, começa a ficar inquieto com a própria sorte. "O comandante militar da zona veio ter comigo, pedir-me que continuasse a coordenar o auxílio". A. Martins tenta explicar que a situação está a tornar-se insustentável, que já não há sequer gasolina para o carro. "Então ordenou-me que ficasse. E eu disse-lhe que só lhe obedecia se me desse umas divisas!".
Combina com o técnico das operações de terra destacado no aeroporto sair no mesmo dia. "Ele ia saber com antecedência quando a ponte aérea fosse terminar", explica.

Dito e feito. Regressa no último voo, na primeira semana de Novembro. Hoje, com 70 anos, perdida a esperança de recuperar a fábrica, tenta que lhe seja contado todo o tempo de trabalho, e que a pensão passe a ser decente, que 27 contos...

O HOMEM DA PONTE

Quando os ricochetes das balas do princípio da guerra de Luanda começaram a faiscar nas paredes, o general Gonçalves Ribeiro achou que era altura de pôr a família a salvo.

"Parecia uma festa. Os miúdos iam para a janela, ver aquilo", recorda o general, que ainda se mexe na cadeira, vinte anos volvidos sobre os acontecimentos daqueles meses dramáticos em Luanda.

"Eu também estava a acabar a comissão, mas resolvi ficar". E ainda bem, que hoje Gonçalves Ribeiro, que viria mais tarde a ser alto-comissário para os Refugiados, é lembrado com admiração e reconhecimento por aqueles que com ele lidaram, por ter sido o homem de uma evacuação que, apesar de todas as dificuldades, conseguiu tirar de Angola quase meio milhão de portugueses.

São tempos que o general preferiria, por pudor, não relembrar. Hoje, é a construção de uma outra ponte, ou, como diz, "um outro pilar da mesma ponte", que lhe ocupa os dias: a cooperação militar portuguesa com as antigas colónias. "É notável que hoje isso se possa fazer sem ressentimentos. Os meus interlocutores são homens que naqueles tempos estava do outro lado. Há anos, em Maputo, encontrei o general Chipande (Alberto Chipande, antigo ministro da Defesa de Moçambique), e ele mostrou-me um dedo a que faltava uma falangeta. "Foi um desgraçado de um soldado português que ma arrancou, com um tiro", disse-me. E eu respondi: "Ainda bem que era mesmo um desgraçado, senão não estava hoje aqui a contar-me isso...".

Não quis contar o telefonema feito para o então embaixador norte-americano em Portugal, Frank Carlucci, que, em desespero de causa, acabaria por fazer numa noite de Julho de 75, e por onde havia de começar a ponte aérea para a retirada dos portugueses de Angola.

Nem o que teve de aturar dos que fugiam como o diabo da cruz quando se levantava o problema dos refugiados.

"Fiz nessa altura coisas que nunca imaginara vir a ver-me fazer", acaba por lembrar, a custo, e sem dizer nomes. "Quantas vezes, acabadas as reuniões, ia pelos corredores a dizer "Mas, meu tenente-coronel, é preciso fazer isto e isto", e acabava a empurrar as portas de gabinetes para que não lhas fechassem na cara.

"Era tabu. O problema dos portugueses em Angola não existia. Ninguém aqui queria ouvir falar disso", conta.
Em Angola, era o salve-se quem puder, o cada um por si. "Lembro-me de ter visto juízes, professores universitários, a manobrar guindastes no porto de Luanda. Quando os guindastes deixaram de funcionar, era com os paus de carga dos navios. Punham o que era seu a salvo, como podiam, e partiam para o aeroporto. As pessoas tinham perdido todo o sentido de sociedade, só existiam elas próprias".

Lembra com mágoa a política de meter a cabeça na areia que era regra em Lisboa, mas não tem dúvidas que fazer melhor era impossível.

"Catorze anos foram tempo mais que suficiente para os políticos terem pensado numa solução para a guerra em África. Repare que Portugal foi a única metrópole a manter uma guerra nas colónias por tanto tempo. Os franceses e os ingleses tiveram problemas nas colónias, mas resolveram-nos rapidamente. Portugal foi o único país que aguentou guerras daquele tipo durante tanto tempo. Ainda hoje na OTAN há quem se admire de termos conseguido, nós, um país tão pequeno, manter forças em três teatros de guerra durante tanto tempo".

E com algo êxito, diga-se. "Na Guiné, a situação era má, em Moçambique, o general Kaulza de Arriaga não estava a ter os resultados que tinha pensado, mas em Angola a situação estava controlada. O Exército tinha parado as operações em 1972. O governador podia viajar por todo o território. Mesmo de comboio, podia ir de Vila Teixeira de Sousa, na fronteira, até Benguela".

Esses 14 anos de guerra são o triste recorde que, para o general, haveria de estar na base do 25 de Abril.

"O país estava exangue. Repare, aos 18 anos, um jovem era mobilizado. Se tivesse um irmão com 10 anos, oito anos depois a família ia viver o mesmo problema". Problema que era a angústia de nunca se saber em que acabavam as coisas, se era um dos que voltavam, direito ou como uma perna amputada, ou se ficava por lá, com uma bala no corpo.

A 25 de Abril, foi como se um dique se tivesse rompido. E rapidamente houve quem pretendesse ocupar o vácuo de poder em Angola. Estava-se em plena Guerra Fria, e "os Estados Unidos, a Rússia, a África do Sul tentaram logo preencher aquele espaço".
A Portugal, perdido naquele tabuleiro de parada alta de mais, restou tentar manter-se à tona.

No meio do vendaval, o general assume perante si próprio um compromisso. "Quem quisesse ficar ficava, mas era preciso que, quem quisesse vir, pudesse vir". E ele próprio viria, por fim, a consciência mais tranquila.

Aqui, foi o que se sabe. Gente metida em tudo o que era sítio, hotéis a abarrotar, com pouco mais que a roupa que traziam vestida, com uns trocos no bolso. Como sempre, o mal de uns é o bem de outros, e, quem para tanto teve artes, compôs a vida.

No fim da ponte aérea, os números oficiais registavam 228.471 pessoas trazidas de Angola. De barco, mais 5.794. Ao todo, 234.265 pessoas. Esse número viria depois a subir mais umas dezenas de milhar, quando foram recenseados todos os regressados. Diminuídos uns quantos, que África só conheciam de fotografia, mas aproveitaram para ter cama e roupa lavada durante uns tempos.

De trafulhices falou-se, à volta de uma centena de milhar de contos - coisa pouca comparada com os 50 milhões de contos gastos, a maioria donativos estrangeiros -, a Polícia Judiciária foi metida no IARN, mas não achou ponta por onde pegasse.

UM PORTUGUÊS CONFIANTE

Quando teve notícia do 25 de Abril, António Conceição ficou satisfeito. Era tempo de Angola se desenvolver, de as oportunidades serem para todos, e não apenas para as grandes companhias do algodão e do café, protegidas pelo Estado. "O regime tinha medo que Angola se desenvolvesse e acontecesse como ao Brasil, que se tornou independente", explica.

Os negócios corriam bem, a empresa-mãe do Huambo já abrira delegações em Luanda e Sá da Bandeira, hoje Lubango. Ali começara a trabalhar quando fora para Angola, ido de Mansores, Arouca, em 47, terminado o seminário mas adiada a ordenação, que para outras coisas o puxava a vida.

O sonho era o Brasil, mas sem serviço militar feito, nada feito. Para Angola, era outra história, até empurravam, se fosse preciso.

Feita a tropa, emprega-se como agente de empresas de fornecimento e assistência de máquinas para a indústria ligeira, coisa de padarias, serrações, carpintarias, cerâmica. Depois, abre o próprio negócio, expande-o, que aquela era terra de oportunidades.

Uma manhã de fins de Abril de 74 encontra-o à porta de um dos armazéns que tinha no Huambo. No primeiro andar, morava um exilado checoslovaco. A tomada do poder, após a II Grande Guerra, pelos comunistas, levara-lhe o pequeno rendimento de uma herança, e à decisão de mudar de ares.

"Então, já sabe o que aconteceu em Lisboa?", pergunta, ansioso de dar a novidade. O outro desencanta-o: "Não sabe o que é o comunismo! Não aguento aquilo tudo outra vez! Ainda me suicido".

Mas António Conceição não desanima, era grande a esperança que o golpe em Portugal resultasse em Angola em mais liberdade para trabalhar, para investir.

"Mas sempre brancos e negros irmanados", concluiu, após reunir o pessoal (chegou a ter à volta de 400 trabalhadores). "Pus o problema claramente, e a resposta que eles davam era: Patrão, nós queremos progresso para Angola, melhores condições para os nossos filhos, mas sempre ligados com vocês".

"Da maioria era essa a ideia. Não quer dizer que não houvesse uma minoria que pensasse de maneira diferente", ressalva.

O PRINCÍPIO DOS TRABALHOS

Com a assinatura, em Janeiro de 75, dos acordos do Alvor, começa o calvário de António Conceição. "Houve o Alvor, Portugal reconheceu os três partidos, infelizmente cada um com seu exército - não podia dar bom resultado - e nós tínhamos de os tratar todos com respeito. Eu fui procurado por uns e por outros, para os ajudar, por vezes até com mobílias, que também fabricava mobílias, ou com donativos, e atendi-os a todos por igual".

Mas às tantas começa a ser apontado com o apoiante da UNITA. "Sabe porquê? A certa altura, o comité da UNITA abordou-me, se eu deixava o dr. Savimbi instalar-se na minha propriedade e na minha casa, que eu nessa altura já vivia mais na cidade, tinha a casa disponível. Eu disse que sim, como diria a outro movimento qualquer. 

E assim foi. O dr. Savimbi, com toda a delicadeza, veio com o seu Estado-Maior ver as instalações, conversou comigo, perguntou de rendas, como é que era... Eu disse que queria nada, não seria por muito tempo. Deixei telefones, posto de rádio, instalações, mobílias. Instalou-se lá com o secretário, o Nzau Puna, e eu tinha absoluta liberdade de trânsito quando queria tratar dos assuntos da fazenda. Fui sempre respeitado, tanto por ele como pelas tropas, e ainda aconteceu salvar a vida a outras pessoas nos controlos por saberem da minha amizade com o dr. Savimbi".

Tudo muito bem, e assim continuou durante algum tempo. "Mesmo depois disso, continuei a ajudar o MPLA e a FNLA quando me solicitavam qualquer coisa. Até o Chipenda, veio uma vez pedir-me uma ajuda financeira e eu dei-a. Portanto, não tinha partido, porque eram todos angolanos".

Mas não há bem que sempre dure. Chegam os cubanos, e António Pereira Conceição passa a ser considerado apoiante da UNITA. "A Nova Lisboa, os cubanos ainda não tinham chegado. Mas já estavam a desembarcar quando isto sucedeu. E tive de vir embora, bem contra vontade".

Para mais, começava a faltar dinheiro para pagar ao pessoal. "Em grande parte, já não trabalhavam, assinavam só o ponto. Não era possível trabalhar, o que se produzia também não se vendia, não havia mercado. Onde eu ainda ganhava algum dinheiro era na serração, a fabricar carroçarias para camiões que iam para a África do Sul, e caixotaria para pessoas que vinham na ponte aérea ou em barcos".

Mas mesmo isso estava no fim. "E eu sabia que ia acabar aquela fonte de receita. Os próprios bancos já recusavam o pagamento de cheques, praticamente estavam fechados. Era natural que o pessoal ficasse indisposto quando não recebesse, e eu, que não tinha culpa nenhuma, ia ser a vítima".

PARTIDA ÀS ESCONDIDAS

Poucos dias antes de embarcar no avião, António Conceição tenta salvaguardar o que podia. "Procurei deixar o pessoal habilitado a continuar a administrar. Já nem havia notários a funcionar, mas dei-lhes uma espécie de procurações particulares, dando-lhes poderes para resolver todos os assuntos que pudessem surgir".

Aí começaram as suspeitas que estava para vir embora. "Um dia chego a uma serração grande, numa propriedade que tinha lá em Nova Lisboa, e vejo o pessoal reunido, o da serração e o da exploração agropecuária. Não me assustei, confiava neles, eram umas largas dezenas de pessoas, e puseram-se à minha volta. Então o que há, algum problema? perguntei. E a resposta era: Patrão vai-se embora. Que não, que tinha passado aqueles papéis porque tinha de ir às filiais de Sá da Bandeira e de Luanda, que os brancos que lá estavam tinham ido embora, e tinha de ver como aquilo estava. Mas não os convenci".

No dia combinado, vem mesmo embora, a única coisa que trouxe foram os alvarás das fábricas e os títulos da propriedade. "Não tive problemas, o coordenador da ponte aérea era um amigo". Mesmo que não fosse, para António Conceição aquilo funcionou bem. Bem de mais, suspeita mesmo. "Se calhar para trocar os portugueses por outros vindos de Cuba, da RDA. Se não tivesse havido tantas facilidades na ponte aérea, era natural que muito mais gente tivesse ficado...", acha.

Uns tempos depois, recebe uma carta de um empregado, a dizer "Patrão, os cubanos levaram tudo, dizem que era para as lojas do povo".

A única coisa que conserva, se os devolverem, são os terrenos. "Houve nacionalizações, mas segundo me disseram uns pastores adventistas que lá estiveram há uns dois anos, a propriedade não foi nacionalizada. Funcionava lá um orfanato para crianças filhas de combatentes mortos na guerra, e estavam lá umas moças holandesas, tudo muito bem conservado".

Contaram-lhe até que - "pedi para repetirem diversas vezes, que me consolava a alma" -, quando procuraram saber da situação da propriedade, perguntaram ao delegado do governo provincial, e o homem mostrou-se espantado por ainda ser vivo, que as terras ainda eram dele, sim senhor, que, quando quisesse, voltasse.

"Mas nunca me decidi a voltar porque tinha sido considerado apoiante da UNITA, e tanto era da UNITA como de outro qualquer. Mas tenho esperança de um dia ser uma pessoa desejada lá. E levar comigo empresários que já contactei, para ajudar a reconstruir Angola".

Chegou cá com o que trazia no corpo. "Podia ter ficado num hotel em Lisboa, como ficaram muitos, mas não estava no meu feitio. Vim parar aqui a Arouca, que era a minha terra".

A casa do pai estava ocupada pelos irmãos, teve de procurar outro sítio. Passados uns anos, a vida reorganizada, construiu casa. A princípio, foi difícil, como para os que por andavam. "Era difícil arranjar emprego, fiz uns serviços de borla, fazia relatórios para a Câmara a contar as carências da terra, a fazer serviços para a comunidade...".

E aproveitou para estudar o terreno. "Vi que uma das riquezas da zona era a floresta, e que os agricultores poderiam eles próprios intervir na transformação da floresta, em vez de proporcionarem o lucro todo aos intermediários".

E, com o apoio das pessoas da terra, deitou mãos à organização de uma cooperativa. "Já havia uma outra cooperativa, que tratava do leite, e eu fomentei a criação de uma outra, chamada a CODA. Comprámos um terreno de trinta mil metros quadrados, fizemos as infraestruturas, chegámos a ser visitados por estrangeiros. O alto-comissário elogiou a orgnização dos retornados de Arouca como um exemplo, porque não quiseram trabalhar isolados da população".

Mas o banco que ia fazer o financiamento exigiu que o projecto fosse só de retornados, não podia ter participação local. Ainda tentaram obter outro financiamento, mas as coisas falharam. E começou a haver invejas, suspeitas, houve até uma polémica no jornal da terra. A polémica foi resolvida, "mas quebrou-se o encanto", conclui António Conceição.

AGOSTINHO NETO "ESCONDIA" EM LISBOA UM "CORREDOR-SOMBRA" PARA WASHINGTON

Pouco antes da morte de Neto, em 1979, a Casa Branca pedia a Luanda que "esquecesse" a ajuda norte-americana ao Zaire e à FNLA; Walker, Bzerzinski, McHenry e Moose previam "para breve" a normalização das relações diplomáticas com o regime de Agostinho Neto

Agostinho Neto e José Eduardo dos Santos lançaram na aventura dos corredores da Casa Branca alguns dos seus mais astutos negociadores. Por fim, em 1994, os Estados Unidos da América do Norte abriram, em Luanda, oficialmente, a sua representação diplomática, de facto. Quem foram os "homens de Neto" para os contactos com a Casa Branca? O nome de Paulo Teixeira Jorge, antigo ministro dos Negócios Estrangeiros de Angola, é indissociável dos esforços de Agostinho Neto para convencer os americanos. O JN descobre, entretanto, que o "velho" presidente tinha, "escondido", em Lisboa, na década dos anos 70, um "emissário especial". 

Uma "arma secreta" para "raids" à Casa Branca estratégica e tacticamente concertados, em linha síncrona, com o MNE angolano: o dr. Arménio Ferreira. Médico radicado em Lisboa. Antigo companheiro de Agostinho Neto nos bancos escolares e na Casa dos Estudantes do Império. Arménio Ferreira sentou-se, em Washington, credenciado por Neto, de frente para Richard Moose, Donald McHenry, James Overly, Zibgnew Bzerzinski, Walker, Funk, Alan Hardy, entre outros pesos pesados, médios e leves da política dos "States" para a África.

Arménio Ferreira, cardiologista, não é diplomata de carreira, nem sequer "político encartado". 

O seu estatuto confunde-se com afectos, coerências fecundas, sentido imperdível de constância na lealdade e na solidariedade. Não fosse o dr. Arménio tão modesto, tão avesso à pimponice mediática, e nós, os repórteres, dele tiraríamos, seguramente, revelações interessantíssimas sobre os "labirintos" e os muitos protagonistas da história de Angola e do MPLA. 

O que mais contraria Arménio Ferreira é o facto de ele não ter conseguido, ainda, em foro desapaixonado, divulgar o seu pensamento sobre o papel e a obra de Agostinho Neto. Quando o saudoso presidente angolano considerou útil e conveniente a colaboração de Arménio nas árduas conversações com os americanos, o médico não hesitou. Independentemente das circunstâncias, Arménio Ferreira respondia "presente!".

As incursões mais "trepidantes" deste emissário especial do presidente Neto, junto da Casa Branca, tiveram lugar em 1979. Isto é, pouco antes da morte de Agostinho Neto. Foi quando o dr. Arménio Ferreira, nos dias 29 de Julho e 9 e 16 de Agosto, andou numa verdadeira farândola entre reuniões e mais reuniões na Casa Branca e com os homens do Departamento norte-americano de Estado. Os altos funcionários encarregados, principalmente, dos Assuntos Africanos: Richard Moose, Donald McHenry, Walker, Alan Hardy, e outros. A sessão que mais terá marcado Arménio Ferreira foi, provavelmente, aquela segunda parte das conversações de 9 de Agosto (1979), por volta das 18 horas. 

Quando Arménio Ferreira, em representação da parte angolana, discutiu com uma delegação norte-americana da Casa Branca encabeçada por N. Walker. Este, investido das duplas funções de expert em Assuntos Africanos e representante governamental norte-americano para o "dossier Angola", estava acompanhado, também, por Funk, secretário para a Segurança da Casa Branca.

MEMORÁVEL

Dessa reunião, a 9 de Agosto, no Departamento norte-americano de Estado, guarda o dr. Arménio Ferreira uma impressão certamente memorável. No período da manhã, ele trabalhara com um "pesado" da Casa Branca, Zibgnew Bzerzinski (National Security). O americano quis saber, de Arménio Ferreira, se o presidente Agostinho Neto "poderia governar sem os cubanos". O enviado angolano sorriu-se e aproveitou para lembrar aquilo que, de facto, mais embaraçava a Casa Branca: "Os cubanos só estão em Angola para combater e repelir a invasão sul-africana". Dir-se-ia que os norte-americanos, prestes a aceitarem como irreversível a "normalização" das relações com Angola (1979), não perdiam ensejo de agitar, mais uma vez, o fantasma do "comunismo". 

Bzerzinski disse mesmo ao dr. Arménio Ferreira, enviado de Agostinho Neto, que a URSS era o "suporte", em "todo o mundo", de vários "estados-marionetas". Entrementes, o norte-americano Funk, da "National Security", tem uma explanação no mínimo premonitória: "Actualmente, os Estados Unidos não auxiliam quaisquer organizações anti-angolanas". E justificou: "Se o fizemos no passado era, somente, porque essas organizações apresentavam-se com uma máscara anti-comunista, dizendo-se com forte implantação junto das populações angolanas".

"NORMALIZAR!"

Finalmente, o próprio Bzerzinski foi categórico diante da expectativa crescente de Arménio Ferreira naquela reunião em Washington: "Desejamos e vamos normalizar as nossas relações diplomáticas com Angola. Julgo que Angola também o deseja". Mais tarde, num breve esboço elaborativo dos seus registos, o dr. Arménio Ferreira tomou nota. "Quanto às palavras de Bzerzinski, interpreto-as essencialmente como um recado ao presidente Neto. No sentido de que as relações USA/Angola são provavelmente desejadas, neste momento, pela Casa Branca". E, do seu próprio punho, acrescentava Arménio Ferreira: "Bzerzinski, nesse aspecto, foi claro, na qualidade de único dirigente norte-americano que falava como quem tem autoridade para o fazer".

E, aqui chegado, o dr. Arménio particularizava, da mesma entrevista com aquele alto funcionário da administração americana: "Quando o intérprete (F. de Rivera) me falou em "more normal relations between the two states", eu interrompi-o. E disse-lhe que o conselheiro político do presidente Carter havia falado, sim, em "normal relations". Bzerzinski concordou e confirmou, inteiramente, a minha versão, em inglês".

Arménio Ferreira rematava, assim, as suas apreciações ao perfil de Bzerzinski: "Elemento considerado como da linha dura da Casa Branca, ele foi de uma correcção comedida mas, ao mesmo tempo, simpático e frio no raciocínio. Como quer que seja, foi o único que disse claramente que os Estados Unidos da América do Norte iriam estabelecer relações diplomáticas com Angola. Não mencionou, todavia, qualquer data presumível".

"ACABEM JÁ COM A PARANÓIA!"

Paulo Jorge, antigo ministro angolano dos Negócios Estrangeiros, "encostou" Chester Croker e ouviu "promessas" de Cyrus Vince...

Paulo Teixeira Jorge foi o carismático ministro angolano dos Negócios Estrangeiros durante a presidência do não menos carismático António Agostinho Neto. Ele tem, dos revoluteios da política externa dos Estados Unidos, um conhecimento quase visceral. Quanto ao "dossier" das relações entre Luanda e Washington, Paulo Jorge conhece todas as sofistarias da "máquina" da Casa Branca.
Em Luanda, Paulo Jorge recebe, pela segunda vez no espaço de 48 horas, o enviado do JN. Especialmente para revisitarmos algumas "páginas" do grande livro negocial: Luanda versus Washington.

JORNAL DE NOTÍCIAS - Quais foram os negociadores norte-americanos que revelaram maior apego à linha dura da Casa Branca?

PAULO JORGE - Para começar: a posição da Casa Branca, se bem que eventualmente matizada, é uniforme. Eu dialoguei, por exemplo, variadíssimas vezes, com o então subsecretário de Estado, Chester Crocker. Claro que a posição dele era a posição do Governo norte-americano! Foi precisamente ao Chester Crocker que eu disse, num dos encontros, que os Estados Unidos deveriam reconsiderar sobre a "paranóia" anti-Angola e anti-Cuba. Em dado momento, o Chester Crocker faz avançar o tão falado "linkage": interligar as questões referentes a Angola, presença cubana e Namíbia. E, em 1982, num comunicado conjunto Luanda-Havana, expressa-se a total rejeição de semelhante "linkage"! Este era um tema obrigatório nas minhas deslocações às Nações Unidas, na época. Já com Ronald Reagan na presidência dos Estados Unidos.

JN - O Paulo Jorge utilizou o termo "paranóia" somente nas conversações com Chester?

PJ - Utilizei-o também num discurso que proferi na Assembleia Geral das Nações Unidas.

JN - Nunca conversou com o "moderado" Walker?

PJ - Conversei com ele, uma vez, no âmbito das consultas bilaterais. Tive também encontros com o Cyrus Vance no período em que se encontrava Jimmy Carter na presidência dos Estados Unidos. Conversei, também, com o Alexander Haig. Com o Shultz, etc, etc, etc.

JN - Na altura do falecimento do presidente Agostinho Neto estariam, já, a desenhar-se perspectivas fortes de entendimento com os Estados Unidos?

PJ - Recordo que em 1978...1979, numa das minhas deslocações a Nova Iorque para participar na Assembleia Geral das Nações Unidas, eu tive um encontro com o Cyrus Vance, secretário de Estado norte-americano. E, então, abordámos sim a problemática do reconhecimento da República Popular de Angola pela Administração dos Estados Unidos. Estavam os democratas na Casa Branca, portanto. E o Cyrus Vance deu a entender que estaria em curso um processo tendente ao reconhecimento e, naturalmente, à normalização de relações diplomáticas com Angola. Só que, entretanto, em 1980, foi eleito o republicano Ronald Reagan...! E tudo se desmoronou. 

Foi tudo por água abaixo. Um dos primeiros passos de Ronald Reagan, em 1981, na Administração norte-americana, consistia na revogação da chamada "Emenda Clark". Que impedia o Governo dos Estados Unidos de ajudar os "movimentos" de "oposição" aos regimes africanos. Já durante a campanha eleitoral dos republicanos se perfilava, e preconizava, uma ajuda à UNITA!

DIGA AO DR. NETO QUE É UM "INFERNO" SER-SE AMIGO DE ANGOLA EM WASHINGTON

Walker, encarregado norte-americano do "dossier Angola", queixava-se da sabotagem articulada por "comissões,
senadores, deputados e uma certa Imprensa ávida de deixar mal vistos os amigos da causa angolana"...

No interior da Casa Branca, durante a presidência angolana de Agostinho Neto, o poder democrata todos os dias traçava "fronteiras" entre os políticos hesitantes, às vezes mesmo contraditórios, e os políticos decididos. Um dos quais, Walker, não hesitou em mandar dizer ao presidente Neto: "Olhe que não é fácil, aqui em Washington, a vida de quem se mostra favorável a Angola!". O enviado especial de Agostinho Neto (o médico Arménio Ferreira) percebeu, por outro lado, que os americanos já tinham como irreversível a opção de normalizar as relações diplomáticas com o regime de Neto. O líder angolano morreu, pouco depois, em Moscovo, vítima de cancro no pâncreas.

Luís Alberto Ferreira
Enviado JN

O norte-americano Zibgnew Bzerzinski, alto funcionário da Casa Branca (conselheiro para a Segurança do Estado), chegou a ter este desabafo diante do dr. Arménio Ferreira, enviado de Agostinho Neto: "Considero que, realmente, Angola e o seu presidente têm conduzido uma política independente, e não desejamos que Angola seja base de um novo conflito entre Leste e Oeste". Arménio ficou, por momentos, a contemplá-lo, e Bzerzinski prosseguiu nestes termos: "Queremos uma Angola livre e independente. E os Estados Unidos nunca intervirão, nós nunca interferiremos com o regime angolano. Seja qual for esse regime, como é timbre da nossa política na África Austral. Queremos a estabilidade na zona". E, por último, Bzerzinski proferiu a célebre assertiva: "Desejamos e vamos normalizar as nossas relações diplomáticas com Angola. Julgo que Angola também o deseja". Corria o Verão de 1979.

O ambiente, rememora o dr. Arménio Ferreira durante a conversa com o JN, era de manifesta cordialidade. Tanto assim que Bzerzinski tivera, até, um gesto particularmente simpático: manifestou a Arménio a sua preocupação pelo estado de saúde da esposa do médico angolano, na altura melindroso. Estava-se a 9 de Agosto de 1979.

Arménio Ferreira sentia-se, de facto, agradavelmente impressionado com as "performances" dos seus interlocutores.
Ele gostou, especialmente, das posturas dialogais de Walker e de Richard Moose. "Os mais liberais do Departamento de Estado e da margem esquerda do Partido Democrático", reitera Arménio Ferreira. Também McHenry, Donald McHenry, do "dossier" da Namíbia e embaixador na ONU, impressionou fortemente o emissário especial do presidente António Agostinho Neto.

DONALD McHENRY - A "SINCERIDADE"

No entender de Arménio Ferreira, o poder democrata norte-americano "tropeçava" nos remanescentes da mentalidade conservadora adjutória das políticas republicanas - o "inferno" para as aspirações dos países do Terceiro Mundo. Donald McHenry, que lidava fluentemente com o "dossier" da Namíbia (a SWAPO, na altura, sofria a "bom" sofrer às mãos da Infantaria do "apartheid"), tratou Arménio Ferreira com excepcional afectividade. Arménio matutava para os seus botões: "Este americano é, talvez, mais "formalista" que Walker, ou mesmo Richard Moose, mas é certamente o mais afectuoso de todos". Mc Henry sem dúvida que convenceu Arménio da sua "muita sinceridade". Arménio considerava-o "anti-sul-africano", logo, "anti-apartheid". Além disso, o enviado de Agostinho Neto estava convencido de que Donald McHenry iria suceder a Andrew Young como embaixador norte-americano nas Nações Unidas.

Nesse mesmo dia (9 de Agosto de 1979), ao cair da tarde, em Washington, o emissário especial do presidente Neto ouviu do norte-americano Walker (subsecretário de Estado para os Assuntos Africanos) os mais rasgados elogios. Walker destacou, vivamente, "a eficiência do trabalho" de Arménio Ferreira em prol da aproximação Washington-Luanda. Walker teria dito, entrementes: "Eu não vou repetir aqui as afirmações há pouco proferidas pelos senhores Bzerzinski e McHenry. Quero, isso sim, afirmar que devemos esquecer, Angola deve esquecer a ajuda que os Estados Unidos prestaram, em tempos, à República do Zaire e à FNLA".

Walter, que sabia ser insinuante, aproveitou para lembrar que ele próprio fora o arquitecto, no Departamento norte-americano de Estado, da aproximação Angola-Zaire.

Em Luanda, o enviado do JN ouviu, a propósito, Lopo do Nascimento, actualmente secretário-geral do MPLA, outrora primeiro-ministro durante a presidência do dr. Agostinho Neto. De facto, Lopo deixou bem claro que Donald Mc Henry foi pedra fulcral nas diligências que levaram à "normalização" das relações entre Luanda e Kinshasa. Lopo não falou de Walker. Nessa altura (1977-1979), foram realmente frequentes os encontros de McHenry, inclusivamente em Luanda, não só com Lopo do Nascimento mas, igualmente, com o próprio presidente Agostinho Neto. Falta saber, contudo, se, naquele tempo, a "normalização" teria sido pensável e realizável sem a activa disponibilidade do então presidente do Congo-Brazaville, Marien Nguabi. Com Walker ou sem Walker.

Como quer que seja, ninguém duvida, hoje, da importância que as diligências de Mc Henry, na África Austral, chegaram a conhecer no tocante ao arrefecimento das fricções entre Luanda e Kinshasa. A conclusão a extrair é a de que McHenry foi decisivo no terreno e que Walker tê-lo-á sido no interior mais profundo do Departamento norte-americano de Estado.
A MÁQUINA DOS "STATES"!!!

A verdade é que Arménio Ferreira, o emissário especial que Agostinho Neto, discretamente, accionava a partir de Lisboa, ficou detentor de uma experiência absolutamente singular. Sem ser político, ou diplomata, de carreira. Arménio Ferreira sentiu, por dentro, o pulsar das "dúvidas" e das "certezas" norte-americanas. Em dado momento das conversações nesse 9 de Agosto de 1979, Walker disse ao enviado de Neto: "Peço-lhe que diga ao presidente Neto que não é fácil, em Washington, a vida de quem é favorável a Angola!".

Uma declaração, no mínimo, electrizante. Historicamente significativa de quanto, nos Estados Unidos da América do Norte, Angola (a Angola dos tempos de Agostinho Neto), "perturbava" a terrível máquina dos "States". Walker (da Secretaria de Estado para os Assuntos Africanos) pediu, de facto, a Arménio Ferreira, que fizesse o dr. Neto compreender esse drama: "Diga ao presidente Agostinho Neto que custa muito trabalho, em Washington, sustentar posições pró-Angola. Porque é preciso lutar contra burocracias internas. Contra a má vontade das várias comissões, de vários senadores e deputados. Contra uma Imprensa sempre ávida de assuntos e situações que possam colocar mal os amigos de Angola!".

NETO ELOGIADO PELA CASA BRANCA!

Desabafo insinuante de Donald McHenry: "Eu tenho um fraco por Angola, sou o americano que mais vezes foi a Angola depois da independência..."

Quando o dr. Agostinho Neto se evadiu da prisão, em Portugal, lembra Arménio Ferreira, "eu mesmo fui buscá-lo à Praia das Maçãs". Para dar continuidade à operação que levaria Neto para o exterior, até à sua fixação em Kinshasa, República do Zaire. Aconteceu em 1961. Dezoito anos mais tarde, Agostinho Neto foi "buscar" Arménio Ferreira a Lisboa para seu emissário-estratega nas conversações com os americanos. Desconfiados do "comunismo" de Neto (e do MPLA).

O que o dr. Arménio constatou, face às declarações dos seus interlocutores, só poderia ser gratificante para António Agostinho Neto, chefe do Estado angolano. Donald McHenry, que sobraçava, na Administração norte-americana, o "dossier" da Namíbia, disse a Arménio ter gostado "imenso" do acolhimento que lhe havia sido dispensado, em Luanda, à sua chegada. "Instalaram-me numa casa maravilhosa", lembrou o alto funcionário de Washington. "Encantou-me aquela vista de sonho da baía de Luanda", disse ainda McHenry com manifesto enlevo.

Uma particularidade, que Arménio Ferreira sublinha: "As conversações, curiosamente, realizaram-se, no Departamento norte-americano de Estado, nos gabinetes de Andrew Young, precisamente um dia antes de este ter apresentado a sua demissão ao presidente Jimmy Carter".

Era a tarde de 16 de Agosto de 1979. Conversou-se muito sobre a tormentosa questão da Namíbia. E, em dado momento, Donald McHenry teve este desabafo: "É justo salientar a actividade construtiva do presidente Agostinho Neto em relação ao problema da Namíbia! Conheço o resultado das negociações com o senhor Kurt Waldheim, secretário-geral das Nações Unidas. E sei também que o senhor Kurt Waldheim ficou com uma excelente impressão do presidente Agostinho Neto!"

ENCANTADOS!

Donald Mc Henry foi mais longe, ainda, no reconhecimento da acção do presidente angolano: "O Governo dos Estados Unidos da América do Norte considera muito a acção construtiva do dr. Neto, relativamente à resolução do problema da Namíbia. Sem essa ajuda angolana a resolução seria, certamente, impossível!". E o alto funcionário da Casa Branca não se dispensou sequer de vaticinar: "Desejo que, entretanto, Angola ultrapasse os seus problemas internos, para que o seu presidente possa, enfim, dedicar-se profundamente à reconstrução económica e social do país". McHenry quis reconhecer, também, por outro lado, que o presidente Neto "falara grosso" para a SWAPO ter mais cuidado com as suas "movimentações no território namibiano".

No final das conversações, era ainda McHenry a dizer para Arménio Ferreira: "O presidente Carter e o secretário de Estado, Cyrus Vance, estão ao corrente de todas estas conversações e apreciam muito a colaboração que o dr. Arménio Ferreira tem prestado nesse sentido". 

E, depois, de regresso à "intimidade", McHenry deixou escapar: "Eu tenho um fraco por Angola. Provavelmente, eu sou o americano que mais vezes foi a Angola depois da independência. Já causa inveja a minha resistência de "globetrotter" aéreo... mas, do que eu realmente gostaria, se entretanto não morrer, era de ver normalizadas as relações entre o meu país e Angola"!

Num gesto fagueiro e cortês, Donald McHenry e Richard Moose enviaram telegramas e ramos de flores à esposa de Arménio Ferreira, entretanto internada numa clínica norte-americana.

VIDEO - The invasion of Cabinda by Cuba and the MPLA Regime in 1975

"In the introduction of this video the little cuban shit states that the operation to occupy Cabinda was under the direct orders of the Commander in Chief he is referring to communist shit of Fidel Castro."

VIDEO - MPLA - US, UN, and Communist Revolutionary Tactics in Africa

 

A MORTE DE UM VERDUGO - Rosa Coutinho
2 de Junho de 2010

Morreu um canalha da pior espécie, um assassino, um traidor à Pátria e aos valores dos homens. Leva na "consciência!" milhares de crimes, rios e rios do sangue derramado em Angola pelos seus "feitos" do 25 de Abril de 1974. Infelizmente não o conseguimos ver julgado e condenado em vida por crimes de genocídio contra a humanidade.

Gostaríamos, também, de ver os outros co-autores dos crimes, ainda vivos, que contribuíram para os massacres, e infortúnio de milhões de Portugueses de todas as raças e credos, entre esses: Mário Soares, António Almeida Santos, Otelo Saraiva de Carvalho, quanto antes, no lugar onde lhes pertence estar, junto a Satanás.

A justiça dos homens é falha. Mas a Justiça de Deus, é inexorável, e, incomensurável.

Ficarão inscritos indelével na História, com o sangue derramado pelos assassinatos dos povos de Portugal. Nós nunca esqueceremos!

Rogéria Gillemans

 

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 Nota: Estes textos aqui transcritos foram mantidos no original, respeitando os direitos do autor, apenas com a intenção de que se não percam.