30-04-2015
Presidente da Assembleia da República
"Se eu fosse magistrado sentiria uma imensa repugnância de mim próprio ao saber que há crianças a ir a pé para a escola por falta de dinheiro para o passe enquanto a ministra comprava os meus serviços oferecendo-me borlas nos transportes públicos.
Sentiria nojo de ser um magistrado a quem cabe defender a legalidade e os valores constitucionais e ver que para mim havia um tratamento especial, que uma proposta de OE seria corrigida às escondidas dos olhos do grande público para que eu pudesse continuar a beneficiar de uma gorjeta miserável.
Mas como não sou magistrado e muito menos sindicalista não tenho de me envergonhar de ir a congressos de luxo patrocinados por bancos que estão a contas com a justiça ou de andar à borla em transportes públicos pagos com impostos de gente que ganha muito menos do que eu.
É tão bom não ter bicos de papagaio! Mas resta-me a revolta de ser cidadão de um país onde um sindicato de magistrados pede aos seus sócios para esconderem dos olhos do público que vão receber uma gorjeta do poder, gorjeta que será paga com os impostos de gente pobre a quem são cortados apoios sociais.
Uma revolta que chega a ser vergonha de ser português, vergonha de viver num país onde todos os dias se viola o segredo de justiça ao mesmo tempo que os magistrados pedem segredo para coisas miseráveis como estas.
É triste ver gente que nem ganha assim tão mal e que estão entre os melhores remunerados do Estado estarem a receber às escondidas uns passes de borlas em transportes públicos, já não há fronteiras morais e a austeridade está a levar a um salve-se quem puder onde todos se atropelam.
Um nojo."