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Outubro de 2010
CONTA-ME A TUA HISTÓRIA - 5
Conta-me a tua história Maria do Céu.
Parece o nome de uma cantiga,
Onde ela protagonista dança toda catita.
A sua vida de abnegação e dor
Não estragou o seu coração.
Como numa explosão os seus sentimentos,
A todos abrangem,
Fazendo sentir a forte emoção,
De protecção que sabe transmitir.
Maria do Céu, não sabes mentir.
Consegues ainda sorrir,
Depois de toda a força
Com que a vida para ti se fez sentir.
Já não és a mulher de outrora,
Os anos já se fazem sentir,
Mas tu continuas ainda a sorrir.
Lisita
CONTA-ME A TUA HISTÓRIA - 4
São quatro as torres do meu castelo,
Onde se abriram quatro janelas,
Deixando entrar o amor por elas.
Alargou-se e espalhou-se o meu reino,
Mas não foi para mim castigo.
Os postigos saltitões tornam tudo mais bonito.
Sempre em chamas nunca querem ir para a cama,
Iluminam de noite e de dia as ameias do meu castelo.
Perco-me a olhar para eles, quanto são engraçados,
Estabelecem firmemente este meu reino independente.
Às vezes a canseira é tanta,
Mas nem me importo de ficar doente,
Pois eles são grandes amores,
Que existirão para todo o sempre
Lisita
CONTA-ME A TUA HISTÓRIA – 3
“Nós os outros”
Quando lia o nosso jornal “O Gabelense”,
Muitas vezes recuava no tempo com dor, com lamento.
Mas voltava às minhas paisagens,
Passeava nas minhas ruas,
Na minha cidade que hoje só me parece uma miragem.
De longe me vêm recordações,
Quase me esqueci que lá estudei,
Pouco, mas com grande esforço.
Penso assim em tantos que também o liam,
Será que tudo entendiam?
Da sua leitura percebíamos o contexto e não é para todos.
Escrevia-se principalmente para quem foi mais além.
Não poderiam ser palavras mais simples para a todos tocar o coração?
Não faz mal. Porque depois lá estamos “nós os outros”,
A desfolhar o dicionário com tanta emoção.
Porque não somos todos doutores, engenheiros ou enfermeiros.
Também existimos nós, os lavradores, as lavadeiras e os padeiros,
Que com tanto esforço e sem tantas letras pelo meio,
Contribuíram para os alicerces desta Gabela, tão bela,
Pertinho do Céu, cheiinha de café.
Agora tão triste mas que ainda resiste.
Recordo-os aqui a todos aqueles “simples” para que não fiquem tristes.
Por isso deixamos que pensamentos alegres nos inundem a fantasia,
E dizer-vos que mesmo assim,
Também gostamos de poesia.
Lisita
CONTA-ME A TUA HISTÓRIA - 2
Pequenas donzelas de olhos amedrontados,
Cheias de mazelas,
Ao fim do dia magoadas.
Guerreiras leais por fora,
Revolucionárias por dentro, mas caladas.
Durante o dia comandava o General chamado – Reguadas.
O som da sua voz soava como uma trompete no meio de uma feroz batalha.
O medo reinava, quem será que apanhava?
A Julieta? A Migú? A Sandão? Ou a Isabel?
A Elisa, muitas vezes porque muitas coisas não sabia por no papel.
Era dura a luta na quarta trincheira,
Todas queriam alcançar a primeira.
A Elisa alcançou a Terceira a poder de palmatória.
Fez assim alguns anos de escola sem grande glória.
Vêm-lhe agora tantas coisas à memória.
Fascinavam-na as contas.
Apaixonou-se pela escrita,
E, o resto é história.
Lisita
CONTA-ME A TUA HISTÓRIA - 1
Conta-me a tua história,
Escava na memória
Todos os teus feitos de outrora.
Pequenos ou grandes que sejam,
Transformam-te naquilo que hoje és,
Talvez não naquilo que desejarias ter sido.
Mas diz-me quais os pontos, as vírgulas, as interrogações,
As exclamações que são para ti queridas.
Motivos pelos quais amaste,
Motivos pelos quais choraste,
Mas que de certeza não renunciaste,
A continuar a arriscar, a viver.
Talvez agora tudo te pareça longínquo,
Talvez penses que nada tenha valido a pena.
Mas se neste momento aquele sorriso,
Aquela carícia, aquele beijo, aquela lágrima te vêm à memória,
Como sabes tu se não se escreverá uma bonita história.
Lisita
CORAÇÃO DE LATÃO
Era jovem e pimpante,
E como todos os outros confiante.
Quando pela primeira vez a viu,
Emocionou-se e a chamou.
Hei, Xé, ó Bé!
Toma este tesouro para pores no teu pechiché
Estendeu as mãos e temerosa agarrou um coração.
Pensou que fosse de ouro,
Mas com o tempo e a inflação,
Descobriu que era de latão.
A vida foi-o amassando e desgastando e
Viu que afinal não passava de uma imitação.
Hoje o reluzente pechiché de outrora,
Transformou-se num móvel de século.
Não de pode arranjar e para não estorvar,
Põe-se atrás da porta para nele não encepar.
Está vazio.
Não ficou nele o coração que não importava
Que fosse de ouro ou de latão.
Lisita
Agosto 2010
DESISTE
Estou aqui sentada, paralisada,
Sem saber o que fazer,
Sem nada sentir.
Os sons vêm de longe,
Tento dar-lhes formas, vida,
Para assim poder entender, perceber.
Quero ajudar-te não sei como,
Já não como já não durmo.
Não deixo que te magoem,
Não quero que te destruam.
Sei que há em ti algo que desconheces,
É o teu coração de menino,
Sempre a pedir carinho.
Vou tentar defender-te,
Vou tentar ajudar-te em silêncio,
Não quero que percas o teu valor, lutador,
Pois eu sei que um dia vais ter que parar
E achar o lugar certo para morar.
Mas por agora… deixa um pouco de sonhar.
Lisita
LAMENTO
Choramos muito durante a noite,
Águas estão descendo dos nossos olhos,
Estão sobre as nossas faces.
Não existe dor igual à nossa,
Que se faz sentir agudamente,
Estamos os dois suspirando,
Por causa deles estou chorando,
Como mulher.
Pois longe de nós ficou o consolador,
Alguém para reanimar as nossas almas.
Quem foi que disse que isto devia acontecer?
A que vos igualarei para vos consolar?
Vocês chegaram no dia em que estava pranteando.
Ouviste a minha voz e disseste: - Não tenhas medo.
Trazei-os de volta meu Deus.
É bom que se espere… mesmo silenciosos!
Obrigado Stefanie e Gerardo.
Lisita
AO MEU CUNHADO MÁRIO
Na minha cidade natal vivia um tal.
Já cedo pela manhã,
Quando a rua subia,
A Lua se escondia.
Por detrás das lentes escuras,
Escondia os seus olhos luminosos,
Que o seu sorriso denunciava,
Quando à nossa porta passava.
Ia direito ao seu quartel,
Para ordens receber.
Mas o seu coração,
Já ditava ordens afinal.
Culpa daquela morena,
Que era o seu General.
Algumas guerras combateu,
E muito sofreu.
Uma delas venceu
E foi uma grande vitória.
Que ainda fala a história.
Recebeu medalhas
E também uma condecoração,
Mas a mais importante
Foi um coração.
Orgulhoso do seu feito
Vai-se por à varanda
E embala a sua pequena moreninha
Que se chama Vanda
Lisita
MÃE
Entra mais uma vez em cena a “messena” Etelvina.
Pequena grande mulher, sim pequena mas só de estatura.
Lembro-me ainda que para ajudar a ganhar o pão,
Também vendia pelas libatas a sua costura.
Grande mulher que foi,
A nossa pequena rainha que na sua casa pequenina,
Tinha escrito a palavra mãe.
As palavras que hoje aqui imprimo
Não lhe acrescentam mais valor,
Mas recordam a ternura do seu grande amor.
Mãe,
Não és a única para quem escrevo esta história,
É também para muitas outras que me vêm à memória.
O meu pensamento corre assim veloz ao redor do mundo,
Onde muitas vezes se nega o direito a este amor profundo.
Levo na bagagem um tesouro que ninguém quer roubar,
Mas que todos gostariam de saborear.
São três palavras apenas
Embaladas num coração apertado com laços de saudade,
- Obrigada Querida Mãe –
Nenhum filho no mundo quer de ti abdicar.
Lisita
01-07-2010
AVENTURA
Valoroso cavaleiro sonhador,
Venceu algumas guerras montado na dor.
Percorreu mundo num sonho profundo,
À procura de fronteiras inexistentes que pusessem fim
À sua procura incansável de certezas que a vida lhe negava.
Saltando, pulando, continua assim a sua corrida descontente.
O seu mundo apertou.
Esticou um dia os braços e pensou que se libertou,
Como se enganou.
Volta a sentir-se preso,
Quer ainda lutar e o seu combate continuar.
O seu sorriso transformou-se, alargou-se, medita.
E, os seus braços outra vez estica.
Continua a querer ultrapassar fronteiras,
Apanhar o vento, as nuvens,
Tudo o que estiver ao seu alcance,
E assim poder ir mais adiante.
Sempre o melhor mereceu,
Mas na vida muito padeceu.
Continua a olhar à sua volta,
Pensando que para ele não é tarde de mais.
Quer continuar na aventura pensando que tudo dura.
Mas não te enganes irmão,
Pois a vida irá reclamar-te o seu quinhão.
Lisita
01-07-2010
LÁGRIMAS
Se as lágrimas falassem, cada gota teria uma história.
Algumas falariam de guerreiros valentes para as tristezas espantar.
Outras falariam de dor que o amor não foi suficiente para repor a serenidade de dias sem cor.
Aquelas que neste momento me molham a cara,
Escorrem velozes e não conseguem parar.
Trazem para fora numa enxurrada
A carga pesada de anos passados em silêncio,
Pisada e amargurada.
Tantas outras neste momento afluem as janelas que são os meus olhos,
Todos querem contar a sua.
A minha alma sente-se vazia e nua,
Quero pará-las e não consigo,
Precisava de alguém que dissesse comigo – vão-se embora –
E elas lá se vão voando como mariposas,
Para longe de mim, da minha dor, do meu desconforto.
Possa a corrente que é a minha vida, levá-las a um bom porto.
Lisita
01-07-2010
MULHER
Que valor tem ela?
A mulher não muito bela, mas quando era menina até era bonitinha.
De pequena aprendeu das suas crianças a cuidar,
E enquanto foi crescendo também aprendeu a cozinhar,
A lavar e a passar, tudo menos brincar.
Tudo fez na vida para não desanimar,
E os seus problemas ultrapassar.
Sempre numa correria esqueceu-se que existia.
Queria que o tempo parasse e que alguém a apressasse.
Para ela nunca teve tempo e assim foi envelhecendo.
Para quê tanto trabalho?
Para quê tanta canseira?
Neste combate corpo a corpo e também nas trincheiras?
Com que armas defenderão tão valorosa guerreira?
E para quê?
Que feitos é que ela fez?
É apenas mulher, cozinhou, passou e lavou.
É mãe e amiga.
Não merece ser defendida?
Lisita
01-07-2010
SIM
Parece que foi ontem que disse SIM.
Mas sim a quê? E para quê?
A um destino traçado e ensinado.
Para amar e cuidar de alguém que não estava preparado.
Com o tempo aumentamos e sempre te amamos.
Num país longe vivemos e sempre atrás de ti corremos.
De terra em terra andamos e nunca te abandonamos.
Grandes façanhas fazias, mas era de nós que te esquecias.
Onde estavas, enquanto por ti esperávamos?
Seguimos estradas paralelas, enquanto tu vivias para elas.
Assim o meu sim quase esqueci, à espera de ouvir o teu.
Continuamos à espera que o sim que outrora disseste sem saber o que fizeste,
O repitas agora seriamente e que seja para todo o sempre.
Lisita
01-07-2010
PROMESSA
À minha querida mãe e à sua amiguinha Elisinha do Seixo da Beira
O meu nome é uma promessa,
Feita por uma pequenina à sua amiguinha.
Elisinha quando eu crescer, porei o teu nome à minha menina.
Na casa onde crescia a Tebina também crescia a Mariazinha.
Dentro do portão com duas pombinhas,
Cresciam contentes com sonhos diferentes.
A Elisinha tinha sonhos de ouro,
A Tebina aprendeu a dizer – era uma vez.
Anos depois atravessou o mar,
Mas não se esqueceu da promessa que fez.
Quando a nostalgia batia à porta,
Abria a caixinha das histórias e dizia orgulhosa,
Era uma vez na casa do Senhor Tenente…
O tempo parava,
Eu e outros quatro pequeninos enchíamos a nossa mente,
Com fantásticas aventuras vividas por um cavaleiro valente.
A promessa realizou-se, a Elisa que hoje escreve,
Não esquece a sua querida mãe
E a amiga que não conhece.
O meu coração agradece o nome simples Elisa,
Que só uma promessa enaltece.
Lisita
01-07-2010
À NOSSA QUERIDA MÃE
Dos filhos – Nelito – Lisita – Migú – Ninito – Zézito
Começava a sua canseira,
Enquanto a farinha preparava,
Para por na amassadeira.
Com grande maestria manejava a baqueadeira.
Depois de tanto suor vinha para a mesa a broa, que era tão boa.
Partida aos pedacinhos, era barrada com margarina,
Como uma mãe galinha olhando para a sua prole,
Lá estava a Etelvina.
Nada havia que não soubesse fazer,
Com a palavra “filhinhos” sabia enternecer.
Tudo inventava para a nossa felicidade,
Esquecendo-se das suas necessidades.
O tempo não lhe foi clemente,
Tanto trabalhou que ficou doente.
Lutou corajosa até ao fim, depois deixou de nos ouvir.
Mas nós continuamos aqui, não desistimos de ti.
Lembramo-nos agora com saudade da chaleira de chá preto,
Juntos da lareira à meia-noite,
Tinha um encanto que só tu sabias dar.
Não sabias dizer que não,
E são esses momentos que agora nos alegram o coração.
Obrigada Mãe
Lisita
27-04-2010
ESCURIDÃO
Sempre à luz da lamparina,
Quando eu era pequenina.
Crescia sonhando outra luz maior, amarela,
E depois veio ela, a luz da vela.
Com ela sempre trémula,
Continuei a crescer perseguida pela amargura,
De ter de viver insegura na noite escura.
Cores, rostos, sonhos com contornos indefinidos,
Sempre de olhos no chão por imposição, procurando uma saída,
Nem que fosse uma janela que pudesse deixar entrar a minha luz amarela.
Com os sentidos entorpecidos, não percebi que quando tu chegaste,
Também vinhas perdido, querendo sair da escuridão.
Agarramos a mesma luz para podermos usufruir os dois, parte dela.
Não suportou a (carga) sobrecarga e com o tempo foi-se tornando fraca.
Comecei por tactear o teu rosto e moldá-lo com as minhas mãos,
Sempre na escuridão imprimi-o no coração.
Visto que durante o dia não te via, porque te roubavam de mim as tuas fantasias.
Longe andavas e quando voltavas o crepúsculo também chegava,
Completava assim calada e magoada as partes do teu rosto que a escuridão apagava.
Lisita
23-04-2010
À MINHA CUNHADA
Rosalina – pequenina.
Fez vida muitas vezes sozinha.
Foi duro o seu caminho.
Por outras terras andou. O que foi que procurou?
De certeza, não o que agora encontrou.
Os seus rebentos espalharam-se e como ela foram pelo mundo fora.
Gostariam agora de nunca ter partido para poderem estar contigo.
Nesta batalha da vida, não continua a correr,
mas mesmo parada continua a lutar, para o seu lugar não perder.
Mulheres como ela nem sempre fazem história,
Mas pensem bem, se lhe tirarmos do nome Lina,
Ficará sempre uma Rosa.
O teu irmão querido e a tua cunhada Elisa desejam-te rápidas melhoras.
Nicolau e Lisita
23-04-2010
À NOSSA QUERIDA FILHA VÂNIA
Esta poesia escrevia no singular fingindo que eras só minha.
Depois pensei bem e uns esses acrescentei.
O Pai também a queria e deixou de ser só minha, para ser a nossa.
Desabrochaste como uma flor e passaste a ser um grande amor.
Esse amor que continua só nosso e que será eterno.
Primeiro beijei-te eu com grande amor materno.
Mas o teu nome foi o Pai que escolheu, demonstrando amor paterno.
O meu nome significa um presente de Deus, dizias.
Enquanto te tivemos muitas vezes nos esquecíamos.
Agora tudo o queríamos era que o tempo tivesse parado,
Para sentir de novo o teu abraço.
Poder repetir vezes sem fim que continuas a ser o maior presente que nasceu no nosso jardim.
Lisita
22-04-2010
AO MEU MARIDO
De manhã cedo se levanta, logo começa a trabalhar com chaves e parafusos.
A apertar e a aparafusar, não se cansa, não se lamenta e nem sequer pensa em repousar.
Tudo sabe fazer, tudo sabe montar.
Se um dia se perdesse, eu lá o procuraria entre fileiras de prateleiras cheias de quinquilharia.
Se os fusíveis se queimam reclamam os candeeiros – corre o Nicolau depressa – para ele não servem os isqueiros.
Gira a água pelos canos, fichas triplas é que não faltam.
Quando ele está por perto, tudo corre sem percalços.
Com todo este talento, tem sempre o seu rendimento.
Para ser feliz no futuro, talvez lhe baste o meu agradecimento.
Lisita
22-04-2010
AOS MEUS QUERIDOS
Num país muito, muito longe, viviam um homem e uma mulher muito, muito pobrezinhos.
Viviam no meio da selva rodeados de macaquinhos e outros animais mais perigozinhos.
Mas, apesar disso eles até eram bem corajosozinhos.
Um belo dia nasceu-lhes uma filhinha muito, muito fraquinha.
Olharam para aquela coisa franzininha, deitaram as mãos à cabeça!
Sabem porquê? Só tinha dois quilinhos e ainda por cima era muito doentinha.
Os pais continuaram muito pobrezinhos e para alimentar a menina nem sequer tinham dinheirinho, nem mais tarde para comprar um docinho.
Na cidade onde depois vivia com os pais e os irmãos havia alguém que vendia docinhos.
Um desses chamava-se pirolito e que era feito de açúcar derretidinho!
Com o tempo a menina magricela foi crescendo e tornou-se uma donzela.
Um belo dia apareceu um rapaz de olhos grandes, curiosos e sonhadores e dentes bonitos.
Num domingo a passear viu a donzela e fez HO!!
Um dia disse-lhe tagarela, vai ao fim da Viela que quero falar contigo.
Ela foi a correr e ele disse-lhe. Quando for grande quero casar contigo (e quero ter quatro filhos).
Para a pequena donzela magrela pareceu-lhe a mais bela das aventuras que se podiam viver na Viela,
Não sabia ela que era mais fácil arranjar dinheiro para comprar o doce pirolito.
Bem!
Já se passaram tantos anos e aquele menino de olhos grandes e sonhadores e aquela donzela, tiveram realmente quatro filhitos, em tudo rodeados de sacrifícios.
Já não vivem na Rua chamada Viela que ficava na Gabela onde existiam os pirolitos,
Vivem muito, muito longe e são os dois quase velhitos.
Os olhos do jovenzito já não parecem tão grandes e bonitos e a donzela aumentou muitos quilitos.
Ultimamente os dois cheios de tristeza olharam para trás, para o longo caminho percorrido. Assustaram-se e perguntaram-se. Mas o que fizemos das nossas vidas?
Tentamos regar bem a alameda ou o caminho para casa percorrido, mas o cântaro onde levavam a água era roto e entornava sempre no caminho para casa.
Quando lá chegavam muitas vezes estava quase vazio.
Pensaram que nada tinha valido a pena e decidiram percorrer com a memória os mesmos caminhos de outrora.
Tentaram afastar os obstáculos que impediram os seus sonhos de meninos.
De repente o seu pôr-do-sol tornou-se brilhante – aquilo que viram deixou-os radiantes.
As águas do cântaro roto não se tinham perdido, enquanto entornava ia humedecendo e regando a estrada até casa.
E aí, tinham nascido as mais belas flores que possam imaginar.
Rosas, cravos, lírios, malmequeres, todas prontinhas para usar.
Então e os docinhos pirolitos?
Este docinho tinha uma particularidade, enquanto se saboreava tornava-se magrinho e derretidinho e podia-se esticar sem perder o saborzinho.
Alguns desses sabores já atravessam o céu velozmente numa explosão de cores, como estrelas cadentes que continuam a adoçar as nossas mentes.
Outros docinhos pequeninos como Pirilampos continuam a aparecer e assim, para poderem esquecer as suas amarguras eles continuam a dar luz nas noites escuras.
Lisita
21-04-2010
SILENCIO
O silencio da meia-noite envolve me, revolve me as entranhas, quero fugir.
Ando pela casa às aranhas, sem ter para onde ir.
O silêncio faz-me pensar, obriga-me a reflectir em coisas que não quero ouvir.
Quero lutar, preciso de resistir, não quero sucumbir.
Concentro-me e agarro-o, aperto-o com raiva para que deixe de me perseguir.
Depois rasgo-o em mil pedaços para ele nunca mais se fazer sentir
Lisita
21-04-2010
À NOSSA QUERIDA MÃE ETELVINA
Quem era?
Aquela mulher pequenina com coração de rainha?
Durante o dia trabalhava como uma abelha miudinha,
De flor em flor esvoaçava para encher a sua colmeinha.
Durante o inverno tinha assim assegurado o seu pezinho de meia
Pezinhos que só de noite paravam em cima do seu pedalzinho da sua maquinazinha
Para trás e para diante o pedalar não parava como numa canção de ninar,
Conseguia assim as suas abelhinhas embalar – até os seus próprios olhinhos de cansaço se fecharem.
Mãe, doce e querida mãe, a poesia do teu nome já foi comparado ao sol, às estrelas, à lua
Já tudo foi dito, já tudo foi escrito
Mas tu és a única que fazia aqueles vestiditos com os restos de tantos teciditos – e os retalhitos – iam-se deitando no kualo até este estar cheio.
Que lindos que eram aqueles vestiditos de chita que fazia para a Lisita e para a Migusita.
Obrigada querida mãe.
Lisita
20-04-2010
O MEU SONHO COR DE ROSA
Olá meu querido, como foi o teu dia?
Olhando me nos olhos respondia
O amor transparecia em cada gesto, em cada movimento, em cada palavra que ele dizia
Não via a hora de voltar para casa
Não, não precisava de relógio, o seu coração batia ao ritmo da ansiedade que ele sentia
Tic-tac, tic-tac, tic-tac fazia
O meu sonho cor-de-rosa tinha sido pintado só para mim e dentro dele vivia
Nunca se tornou realidade como eu queria, porque fiquei fechada na minha fantasia
Bateram com força à porta do meu sonho
Hei, Elisa acorda! Chega de sonhar, com quem pensas que estás a brincar?
Os 60 são pesados de aguentar
Perfuraram os meus sonhos que se espalharam pelo ar, levados pelo vento
Corro atrás deles sem parar, querendo ainda apanhar alguns, aperta-los nas mãos,
Mas cansei-me de correr, de esperar, e, agora de olhos abertos vejo que se desvaneceram as cores com que pintei o meu sonho
À pressa tento mudar, tento corrigir
Mas agora tudo isto só me faz sorrir
Lisita
20-04-2010
TORRE DE AREIA
Tentei construir uma torre, não muito alta mas muito bela
Com a pressa não fiz alicerces e os tijolos eram de areia
Não desanimei e continuei, fingindo não ver os erros que fazia
Sentia que com a força do vento, muitas vezes a torre tremia
Mas eu destemida continuava e nada me assustava – como estava enganada
Pensando ter chegado ao alto, disse que coragem
Só mais tarde vi que nada funcionava e deixei desfazer os tijolos que o vento açoitava
Caí assim desamparada duma torre arruinada
Durante anos fiquei no chão à espera, sem saber o que esperava
Não dei conta que o tempo que passava, afundava mais a minha torre bela
Hoje tento tapar à pressa o buraco que fiz com ela
Parece não ter fundo – não há ninguém para ajudar – só alguém para me culpar
Por não ter sabido esperar o tempo certo para lutar
Lutar com coragem – mas sair dela, da torre não muita alta mas muito bela
Lisita
19-04-2010
VIDA VAZIA
Vivi o meu passado num buraco
Vi a luz só através dos teus olhos
Através dos teus sentimentos vivia
Não saía, nunca me perguntei quem eu era, o que fazia
A vida decorria fria
Sempre com pesadelos acordava e com medo de identifica-los voltava a adormecer mergulhando no vazio
Hoje rebelo-me, digo o que sinto e porque o sinto
Espantado fica a olhar para mim com olhos de quem não vê
Agora grito destapando um vulcão e deito cá para fora os sentimentos em forma de erupção
Continua a olhar para mim, espantado com quem sou
Eu e ele vivemos em casas paralelas esperando que a morte abata uma delas
A minha maior preocupação já não é o que penso e o que faço, o que digo é descobrir que o passado não pode ser mudado, já não importa, eu tenho medo de ter coragem e sair por aquela porta.
Lisita
19-04-2010
A VIAGEM
Percorremos juntos, já por muitos anos uma viagem num autocarro escangalhado.
Muitas vezes furamos os pneus que para ele compramos.
Com muito sacrifício fomos metendo gasolina,
Tanto andou que chegamos quase ao fim da linha.
Ao longo do nosso percurso, o autocarro fomos enchendo,
Com grande tristeza porém, alguns passageiros fomos perdendo.
Agora estamos parados com o semblante acabrunhado – sozinhos –
Sem os nossos amores, embrulhados num cobertor.
Parada, olho para ti de frente – demoradamente – perguntando-me seriamente,
Quem és companheiro, que tantos quilómetros comigo percorreu.
A sua mente é impenetrável, mas sei que tantas dificuldades junto a mim venceu.
Não perdeu a carruagem, não saltou para a outra margem – não me abandonou nesta viagem – Que grande coragem.
Lisita